Capítulo XXV

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Nicolas se aproximou de mim enquanto estávamos diante da cela de Norman. Ela agarrava as grades, proferindo ofensas em minha direção.
- Sua vaca desgraçada! Eu vou foder sua vida! - berrava Norman.
- Você está se desgastando desnecessariamente, sabia? Apenas deite e durma. Amanhã o seu pai vai dar um jeito de te tirar daqui. - falei, mantendo a calma.
Norman, frustrada, estendeu o braço para fora da cela, tentando agarrar minha roupa, mas o espaço entre nós era maior que a extensão de seu braço.
- Ema, podemos conversar em outro lugar? - Nicolas indagou, visivelmente apreensivo.
- Não, já sei o que vai me dizer. - respondi, decidida.
- Aproveita bem, sua merdinha. Hoje vai ser seu último dia usando essa farda, me ouviu? - Norman ameaçou.
- Ouvi. Não estou preocupada. - me aproximei das grades. - Eu não tenho medo de você.
- Ema...
- Nick, sai daqui. Você não precisa se envolver nisso. Esse problema é entre mim e ela. - interrompi.
- Você está perdendo o juízo. - Nicolas saiu andando.
- O que pretende fazer? Me bater? Vai me ameaçar com sua arminha de brinquedo? - Norman sorriu, me encarando. - Eu tenho mais cunhão que você. Ao menos sabe atirar?
- Quem gosta de brincar com armas é você, não eu. - falei, olhando fixamente para Norman.
- Eu posso esquecer o que fez comigo. Sei que está com raiva de mim. Você sabe o que vai acontecer quando o meu pai falar para o delegado que você me enfiou em uma cela? Você vai perder o emprego e não vai conseguir outro em lugar nenhum. Vai precisar sair da cidade e vai deixar de ser uma distração para a Sarah. Ela está zangada comigo, mas isso vai passar. E quando você estiver mendigando em alguma sarjeta, eu vou estar fodendo ela. - disse Norman, sorrindo.
- É? - sorri também. - Senta a bunda na cama e espera até o amanhecer. Vou tirar um cochilo, já cansei de olhar para sua cara sínica. - me afastei da grade.
- Pergunte para Sarah de quem foi a ideia de levar o revólver para o motel. Acha que sou imprudente? Experimenta conhecer melhor ela. O sadismo dela está escondido atrás daquele rostinho bonito. - disse Norman. - Acha coincidência que ela esteja saindo com você? Ela está te usando por causa da droga da sua arma. Quando você for expulsa da polícia, não vai interessar mais a ela.
- Eu não vivo em função da Sarah, e pouco importa se ela ficará comigo ou não. Eu tenho mais o que fazer do que ouvir suas baboseiras. - avancei pelo corredor.
- Você sabe que estou falando a verdade! - Norman disse alto. Tranquei a porta do corredor e avancei até a recepção. Nicolas estava sentado em uma das cadeiras e logo me olhou.
- Isso não vai acabar bem.
- Eu estou cansada, Nick. - sentei ao lado dele. - Eu não pedi por nada disso. Foi a Sarah que quis ficar comigo. E agora, a louca da Norman não sai do meu pé.
- Ema, talvez devesse se afastar da Sarah. Você pode acabar se apaixonando por ela e tudo vai ficar mais complicado.
- Quando o Pedroso chegar, eu vou pedir demissão. Já estou farta desta cidade. Vou embora. - avisei.
- Ema. - Nicolas me olhava incrédulo. - Não pode fazer isso. Achei que eu era importante para você. Vai me deixar assim?
- Não estou te deixando. Só vou arcar com as consequências dos meus atos sozinha. - respondi.
- Ema, não faça isso comigo. - Nicolas suplicou. - Somos bons juntos. Eu não quero ficar aqui sem você.
- Você estava bem sem mim. Vai sobreviver. Logo encontra uma parceira melhor. - me levantei. - Você ainda vai ser meu amigo.
- Eu vou pedir demissão também. Posso vender minha casa. Compramos um motorhome e vamos desvirginizar algumas garotas pelo caminho, enquanto bebemos cerveja e comemos batatas gordurosas. Isso vai diminuir nossa expectativa de vida, mas vamos aproveitar cada dia como se fosse o último.
- Desvirginizar garotas? - olhei para Nicolas confusa. - Você está começando a me assustar com suas ideias malucas.
- Ema, você viu uma mulher fingir ser um cachorro. Tem certeza que sou a pessoa mais estranha que você conhece?
- Não, mas está entre elas. - respondi. - E para com essa bobagem. Você não precisa ser punido por minha causa. - andei em direção à primeira sala. - Vou descansar um pouco. Só me acorde se a delegacia estiver pegando fogo.

***

Acordei com um toque insistente em meu ombro. Ao abrir os olhos, deparei-me com Nicolas à minha frente, visivelmente nervoso.
- Acorda, Ema! A coisa vai ficar feia. O próprio prefeito está lá fora. Alguém avisou para ele que você trouxe a Norman para cá.
- Que horas são? - bocejei.
- São quase 7 horas da manhã. O Pedroso deve estar a caminho. - Nicolas respondeu.
- Hm. - me levantei da cadeira. - A delegacia não está pegando fogo. - comentei.
- Ema, o Pedroso vai arrancar seu coração com as próprias mãos. Imagina a confusão que o prefeito vai fazer por causa da filha. - Nicolas estava inquieto. - Por que não ignorou aquela garota idiota?
- Fique aqui. Eu falo com o ilustríssimo William Johnson. - ironizei, dando passos para fora da sala. Encontrei o prefeito no corredor, andando de um lado para o outro, impaciente.
- Como pôde prender a minha filha? - ele avançou em minha direção. - Abra a cela agora mesmo, se não quiser perder o emprego.
- Não vou abrir, espere o Pedroso chegar. Ele é seu pau mandado, não eu. - respondi.
- O que deu em você? - William estreitou os olhos. - Tire a minha filha da cela, agora. Ou irei arruinar sua vida.
- Já lidei com babacas piores que você. - andei em direção ao vestiário. - Meu turno acabou. Espere o Pedroso.
William me seguiu.
- Olha aqui, garota. - ele agarrou meu antebraço. - Você não está falando com qualquer um.
- Continue me ameaçando. E irei até a droga de um jornal para falar como a filha do prefeito de Santa Mônica se diverte. O que seu eleitorado vai pensar se souber que sua filha se encontra com mulheres às escondidas?
William soltou meu braço. Ele era um homem alto e imponente, com cabelos loiro escuro e rugas que denotavam a idade. Seu traje era composto por uma camisa social amarela, calça cinza e sapatos pretos. Um relógio prateado adornava seu pulso, e uma aliança destacava-se em sua mão.
- Veja bem o que faz. - ele disse em tom ameaçador.
- Vai mandar um capanga me matar? Seja mais criativo, prefeito. - entrei no vestiário. - Não entre, a menos que queira ser acusado de assédio sexual. - avisei.

Continua...

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