Capítulo XXX

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Entramos na loja de ferramentas mais próxima da casa de Sarah, a apenas três quarteirões de distância. Me aproximei do balcão e cumprimentei o atendente.
— Bom dia! Tudo bem? – estendi a mão para ele.
— Ema Campos, quanto tempo. – apertou minha mão.
— Nem faz tanto tempo assim, no mês passado precisei substituir meu chuveiro. – esbocei um sorriso.
O rapaz, filho do dono da loja, se inclinou para o lado esquerdo, observando Mariana e Daniele. Ambas estavam atentas a um expositor de ferramentas na entrada do estabelecimento.
— Suas amigas?
— Podemos dizer que sim. – recolhi a mão. — Você tem barracas? Lanternas? Bem, material para acampamento?
— Tenho. – ele continuava espiando as forasteiras. — Alguma delas é solteira?
— Mantenha o foco, Hugo. – tomei a frente dele.
— Ema, apresenta suas amigas. Elas são bem gatas. Não que você não seja, mas todos sabem que você só se interessa por mulheres. – Hugo me olhava, buscando uma resposta. Era magro e pálido, com cabelos lisos e castanhos que desciam até a nuca, deixando as orelhas expostas.
— Não. – respondi.
— Garoto, você tem abraçadeiras de nylon? – perguntou Mariana, aproximando-se.
— Tenho. Precisa de mais alguma coisa? – ele apoiou os antebraços sobre a bancada de vidro, lançando um olhar sedutor para Mariana. — Talvez meu número de telefone? – piscou para ela.
— Prefiro vaginas, obrigada. – disse Mariana, encarando Hugo com uma expressão de desgosto.
— Ah... – Hugo disse sem jeito. — Vou pegar as barracas, saiu de detrás da bancada e andou em direção a um dos corredores entre as prateleiras.
— Como você aguenta viver nesse lugar? – Mariana questionou. — Eu já fui cantada por meia dúzia de homens feios. Parecem abutres.
— Pararam de dar em cima de mim quando comecei a namorar a Layla. – respondi.
— Sente saudade dela?
— Não.
— Ema, algumas mulheres são como pingentes de vidro, reluzem, mas não possuem muito valor, outras são como diamantes. – Mariana apoiou a mão em meu ombro. — Espero que tenha aprendido a diferenciar cada qual.
— Amor, olha para isso. – Daniela se aproximou de Mariana segurando a amostra de uma corda de cerca de um metro. — Que tal esquecer as abraçadeiras e levar isto aqui?
— É um diamante, não é? – Mariana deu uma leva batida em meu ombro. — Vamos levar tudo que você quiser, meu amor. – dirigiu a atenção para Daniele.
— Vai precisar usar seu nó de escoteira. – Daniele sorria maliciosamente para Mariana.
— Que bom, que fui uma escoteira muito dedicada. – disse Mariana, flertando com a namorada.
— Podemos levar duas, a Ema vai precisar também. – sugeriu Daniele.
— Vou?! – indaguei confusa.
— Claro. – Daniele disse sorridente. — A Sarah vai gostar da surpresa.
— Ô céus... – murmurei.

***

Quando Sarah entrou na sala, eu estava sentada no sofá, segurando um copo com água.
— Ema. – ela sorriu, fechando a porta. — Demorei mais que o previsto, me desculpa. – deu passos em minha direção.
— Tudo bem.
— Cuidaram bem de você? – ela se inclinou para depositar um beijo nos meus lábios.
— Sim. – retribuí o selinho.
— Agora, estou livre. – Sarah sentou ao meu lado. — Precisa da minha ajuda para algo?
— Não, já compramos as barracas. E o Nicolas foi comprar a comida. – pus o copo sobre a mesa de centro. — Se importa se ele for? Pedi para ele convidar alguém para não se sentir segurando vela.
— Tudo bem, vai ser mais divertido. – Sarah tirou o blazer e desabotoou os botões do pulso da blusa. — Eu preciso de um banho.
— Eu já vou para casa. Preciso descansar um pouco antes da nossa aventura. Tem uma trilha de pelo menos dois quilômetros até o local onde vamos acampar.
— Não quer tomar banho comigo? – Sarah me olhava desabotoando a parte de cima da blusa.
— Lamento. Eu realmente preciso descansar. – respondi.
— Tudo bem, mas à noite, a gente vai se divertir na barraca, certo?
— Com certeza. – sorri.
— Ema, eu fiz algo por você. – uma expressão mais séria ocupou o rosto de Sarah.
— O quê?
— Tomei a liberdade de ir até a delegacia para conversar com o delegado. Você não vai perder o emprego. – disse Sarah.
— O que fez? – estreitei os olhos.
— Mostrei as mensagens que troquei com a Norman. Ele fez uma ligação, certamente para o prefeito, e me assegurou que você não sofreria nenhuma penalidade por prender a Norman.
Me levantei e respirei fundo.
— Não deveria ter feito isso.
— Ema, você e a Norman estão em pé de guerra por minha causa, então, não diga que eu deveria ficar de fora. Vou fazer tudo o que puder para te proteger.
— Estou cansada da Norman assombrando a gente. Só quero esquecer que você se envolveu com ela. Entende? – olhei para Sarah. Ela se levantou e sorriu para mim.
— Você está com ciúmes de mim?
— Não sei, mas sinto que vou perder a cabeça se a Norman chegar perto de você. – respondi.
— Não importa se ela se aproximar de mim. Desde que fiquei com você, não desejo mais ninguém. – disse Sarah. — Podemos ficar aqui nesta cidade ou ir para qualquer outra parte do país. Eu estarei com você, Ema. – tocou meu rosto. — Meu corpo é seu, assim como os meus pensamentos.
— Eu confio em você, Sarah.
— Obrigada. – Sarah me abraçou. — Eu também confio em você.
— Prefiro ir embora desta cidade, mesmo que isso signifique sair da polícia e recomeçar do zero.
— Tenho uma cama grande o bastante para nós duas a 400 quilômetros daqui. – Sarah voltou a me olhar. — Café da manhã na cama aos fins de semana, sexo matinal, e filme e chocolate quente nas noites frias.
— É uma boa proposta, mas...
— Não estou te pedindo em casamento, Ema. Só estou te oferecendo um teto, pode ser temporário ou não, você decide. – ela subiu as mãos por minha nuca. — Seria tão ruim assim acordar ao meu lado?
— Não, mas preciso pensar sobre isso. – respondi.
— Tudo bem, vou repetir a proposta usando trajes menores. Acho que assim serei mais convincente. – ela sorriu com malícia.
— Talvez. – sorri.

Continua...

DOMINADORA POR ACASO (Sáfico)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora