Capítulo LV

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A visita da corretora transcorreu conforme o planejado. Inicialmente, ela avaliou minha casa, reconhecendo que o imóvel não era de grande valor. Após realizar anotações e tirar fotos, a corretora dirigiu-se à residência de Sarah, onde notou com estranheza o teto vermelho do quarto, documentando essa peculiaridade. Sugeri a possibilidade de pintá-lo para facilitar a venda, mas Sarah optou por não fazer alterações. Por último, a corretora visitou a casa de Nicolas.
Optei por retornar à delegacia, ignorando o aviso do policial na recepção, e bati à porta da sala de Pedroso. Ao entrar, deparei-me com ele ao telefone.
— Decidi organizar minhas malas e vim até aqui para avisar que não adianta tentar dificultar minha vida. Vou partir ao anoitecer. – comuniquei.
— Retorno daqui a pouco. – Pedroso encerrou a ligação, colocando o celular sobre a mesa.
— Já resolvi isso. Sua demissão está em andamento. Espero que goste de fritar hambúrgueres, porque já fiz sua caveira, e você não conseguirá emprego em nenhuma delegacia decente.
— Seria um trabalho digno. Qualquer lugar longe de você e do seu prefeito de estimação é um bom lugar para recomeçar a vida.
— Não deveria se preocupar comigo ou com o William. Você sabe que veio parar aqui depois de irritar alguém muito influente. – afirmou Pedroso.
— Sei disso, mas cansei de abaixar a cabeça para vermes como ele e como você. – retruquei. — Entrei na corporação para prender bandidos, não importa o escalão ou a conta bancária. Se não puder fazer isso, prefiro fritar hambúrgueres em alguma rede de fast food. – deixei a sala, fechando a porta com certa força. Era frustrante lidar com pessoas como Pedroso, totalmente comprometidas com um sistema corrupto.
Passeei pela praça central, observando algumas crianças se divertindo no parquinho enquanto o fim da tarde se aproximava. Sentando em um banco, esbocei um pequeno sorriso. Apesar dos dias difíceis, também experimentei momentos felizes naquela cidade. Sentiria falta de acompanhar a Sra. Ana até em casa e saborear suas deliciosas guloseimas. As pequenas ocorrências e o tratamento amistoso das pessoas deixariam saudades. Ao mesmo tempo, a lembrança da vida na cidade grande me trouxe esperança. Com esforço e um pouco de sorte, acreditava que poderia alcançar meus objetivos.
Ao chegar em casa, reduzi minha bagagem para uma mala e uma mochila. Após um banho, escolhi minha roupa, optando por um casaco jeans sobre uma blusa preta com decote arredondado. Ajeitei o cinto diante do espelho e deixei meu cabelo solto. Sentei-me no sofá da sala, com a bagagem ao meu lado, aguardando a chegada de Nicolas.
Comuniquei-me com Sarah por mensagens. Ela estava pronta para sair da cidade. Ao ouvir batidas na porta, rapidamente guardei o celular no bolso traseiro da minha calça e me ergui do sofá, certa de que era Nicolas.
— Entra. – virei-me para pegar minha mochila. A porta se abriu, e um perfume doce invadiu a sala.
— Soube que pretende sair da cidade com a Sarah.
Me virei abruptamente ao ouvir a voz. Era Norman.
— O que você tem a ver com isso? – indaguei.
— Você não vai ficar com a Sarah. – Norman fechou a porta atrás de si, trancando-a.
— Você precisa de um bom tratamento psicológico ou talvez de alguns anos na cadeia para tomar jeito. – soltei a mochila sobre o sofá. — Não estou com meu distintivo, portanto, não tenho nenhum compromisso com sua segurança. Recomendo que se retire.
Norman sorriu ao me ouvir.
— Não se preocupe, vou ser rápida. – Norman retirou uma pistola de detrás da blusa.
— Sabe usar isso? Ou vai atirar no teto como fez no motel? – indaguei.
— Sabe, Ema. Eu posso te enfiar uma bala na testa agora mesmo. E acredite, ninguém vai me prender. E enquanto você apodrece debaixo da terra, eu consolo a Sarah. Quanto tempo acha que ela vai demorar para voltar para a minha cama? – Norman deu dois passos em minha direção; a mesa de centro estava entre nós.
— Você é uma pedra no sapato do seu pai. Quanto tempo acha que ele vai tolerar suas maluquices? – indaguei, dando um passo na direção de Norman.
— Está muito confiante para alguém que vai morrer. – Norman subiu o cano da pistola na altura da minha cabeça. — Qual vai ser sua última palavra?
Fiquei em silêncio, encarando o rosto de Norman. Apesar de saber que eu poderia levar um tiro, não cederia aos caprichos dela.
— Espero que tenha se divertido o bastante com a Sarah hoje, pois foi a última vez. – disse Norman.
Uma buzina soou do lado de fora do imóvel, e por um instante, Norman tirou o olhar de mim. Avancei na direção dela e segurei em seu pulso, apontando a mira da pistola para o teto; um tiro foi disparado acidentalmente.
— Já chega! – dei uma cabeçada no rosto de Norman para desequilibra-la e arranquei a pistola de suas mãos.
— Sua filha da puta! – Norman deu um tapa em meu rosto e me agarrou pelos braços, tentando me derrubar no chão. Agarrei-a pelo tronco e girei os tornozelos, caímos sobre a mesa, quebrando o vidro.
— Aaaai. – Norman gemeu, soltando-me.
Me levantei de cima dela, desnorteada e com pequenos cortes pelas mãos.
— Vadia. – virei as palmas das mãos para cima, observando o sangue em minha pele.
A porta da sala foi aberta abruptamente com um chute.
— Ema, eu ouvi um tiro. – Nicolas avançou em minha direção com uma expressão de espanto.
— Essa cretina entrou aqui com uma pistola. – apontei para Norman, ela permanecia sobre a mesa, uma de suas mãos pressionava um sangramento na coxa.
— Você tá bem? – Nicolas se aproximou de mim.
— Estou, mas chame uma ambulância para ela. Prefiro ela viva, assim pode ir para a cadeia por tentar me matar. – desviei de Nicolas e dei passos em direção à porta da sala.
— Ema, você precisa de um médico também. – Nicolas me seguiu.
— Aaai... Chama logo um médico, seu acéfalo! Eu estou sangrando... Aai. – disse Norman, entre gemidos de dor.
— MALDITA CIDADE! – gritei, ajoelhando-me. Apoiei as mãos no chão e inclinei minha cabeça para frente, uma angústia crescia dentro de mim.
No hospital, enquanto uma enfermeira cuidava dos meus cortes, Sarah entrou apressada.
— Ema! – ela me abraçou pelo pescoço. — Nicolas me disse que a Norman tentou te atacou.
— Estou bem.
— Isso é absurdo. Eu vou providenciar a prisão dela. – disse Sarah, me soltando. — Você vai fazer um B.O, não vai?
— Sim. – respondi.
— Vou fazer alguns telefonemas. Norman não vai escapar da cadeia desta vez. Eu juro, Ema. – Sarah segurou em meu rosto.
— Vai ficar tudo bem. – forcei um sorriso para Sarah, na esperança de tranquilizá-la.

DOMINADORA POR ACASO (Sáfico)Where stories live. Discover now