Capítulo XV

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Afundei-me na minha poltrona, segurando uma barra de chocolate, enquanto o noticiário preenchia o ambiente. Minha mente divagava entre a noite passada e o incidente no motel. Desinteressada, mordi o chocolate, prestes a desligar a TV, quando ouvi batidas na porta da sala. Guardei a barra de chocolate no bolso da calça e ergui-me, pensando que Nick, movido pela curiosidade, vinha me interrogar. No entanto, ao abrir a porta, não era ele quem se encontrava ali, mas sim Sarah.
— Como soube onde moro? – questionei.
— Cidade pequena. Todos sabem. – Sarah respondeu.
— O que faz aqui?
— Fui para minha casa e não te encontrei. Fiquei preocupada.
— Ainda não reatou com Norman? – indaguei. Sarah respirou fundo.
— Entendi. Ela foi até minha casa, não foi? Conversaram?
— Sei que ela estava no motel com você.
— Não irei negar, era ela. O que ela disse sobre mim?
— Nada que não saiba. – afastei-me da porta, retornando à poltrona. Sarah entrou e fechou a porta, aproximando-se.
— Desculpa, Ema. Estava tentando te proteger.
— Mentir é proteger?
— Você tentaria prender a Norman, isso seria ruim para você. O pai dela se importa com a reputação.
— Sim, eu faria isso. – respondi.
— Ema, não entre no caminho dela. Prometo te dizer somente a verdade daqui em diante, mas por favor, esqueça o que houve no motel.
— Ela diz que você pertence a ela. – falei, evitando olhar para Sarah.
— Não sou dela. Quebrarei o contrato.
— A amava? – olhei para Sarah.
— Não.
— E o que quer comigo? Outro contrato? Vamos para motéis, e depois iremos nos ignorar nas ruas? – indaguei.
— Não, Ema. O sigilo era ideia dela, temia que o pai descobrisse. Ele pensa que ela nunca se envolveria com mulheres.
— Você não respondeu. O que busca comigo? – insisti.
— É agradável estar contigo. Gostaria de sair mais vezes. Isso seria possível?
— Não sei, Sarah. – respirei fundo. — Posso me envolver e... isso não terminará bem para mim.
— E se eu também me apegar a você? Acha que não tenho sentimentos?
— Claro que tem, mas...
Sarah se aproximou, sua mão tocou minha bochecha, nossos olhares se encontraram.
— A noite foi boa, não foi?
— Sim.
— Então, pare de ser malvada comigo. – Sarah sentou em minhas coxas, cruzando as pernas. Seu braço direito apoiou-se em meus ombros, prendendo meu cabelo. — Você prometeu cozinhar para mim. Onde está a comida?
Retirei a barra de chocolate do bolso e ofereci.
— Isso serve como comida?
Sarah estalou a língua.
— Não. – ela se levantou. — Vamos.
— Para onde?
— Para sua cozinha. Precisa cumprir sua promessa.
— Não precisa voltar logo para o trabalho?
Sarah acenou negativamente com a cabeça.
— Farei videoconferência às 15h30. A maioria dos meus clientes não mora aqui. Vez ou outra, terei que viajar para comparecer ao tribunal. Às vezes, lamento não ocorrerem tantos crimes nesta cidade.
— Como? – franzi a testa.
— É brincadeira, Srta. Policial. –
— Espero. – levantei-me do sofá. — Não sou fã de advogados.
— É mesmo? Ontem, na minha cama, parecia que gostava de mim.
— Impressão sua. – sorri.

***

Ocupamos minha mesa, onde servira um prato de macarrão com frango em cubos e legumes, incluindo abobrinha e cenoura. Sarah saboreava, demonstrando apreciar o sabor.
— Qual a nota para o meu macarrão?
— Hm... Nota 8.
— Ah, por que ele perdeu dois pontos?
— Sou uma crítica culinária exigente. Darei a chance de você melhorar. – Sarah piscou para mim.
— Certo, terá que cozinhar para mim também.
— Pode ser uma sobremesa? Tipo sorvete industrializado?
— Pegar no freezer do supermercado e me servir? Não é justo. Quase ralei os dedos para cortar as cenouras do seu almoço.
— Está certa, vou cozinhar. Farei almôndegas, tentarei imitar as da minha avó. Com certeza, ficarão uma droga, mas você vai ser gentil comigo, né?
— Pensando bem, acho que posso aceitar o sorvete industrializado. – brinquei.
— Ah, como você é má. – Sarah fingiu estar ofendida.
— Às vezes. – voltei o olhar para o meu prato, enrolando um pouco de macarrão no garfo e levando à boca.
— O que fará hoje à noite?
— Assistirei TV até dormir.
— Quer companhia? Sou uma boa comentarista de novela. – Sarah estendeu a mão sobre a mesa, tocando meu pulso com os dedos.
— Não assisto novelas, mas pode vir. Podemos ver um filme e comer pipoca. – falei ao terminar de mastigar.
— Parece um bom programa para mim. – Sarah sorriu. — O que acha de pipoca com vinho?
— Nunca associei uma coisa à outra, mas podemos experimentar.
— Ótimo. Eu trago o vinho. – disse ela.

Continua...

DOMINADORA POR ACASO (Sáfico)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora