Capítulo XLVI

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Sarah repousava sobre mim na cama, distribuindo beijos delicados pelo meu ombro e pescoço. Suas mãos descansavam no travesseiro, enquanto suas coxas envolviam suavemente meu quadril. Decidi virar-me, colocando Sarah abaixo de mim. Com as mãos apoiadas sobre as dela, os braços de Sarah ficaram ao lado de sua cabeça, e compartilhamos olhares sob a suave luz do abajur.
— Sarah... – hesitei. — É um momento oportuno para discutirmos seus limites?
— Sem objetos perfurantes ou cortantes, punhos, urina e... Queimaduras. – ela respondeu. — Mas prefiro falar detalhadamente sobre isso em outra oportunidade.
— Uau... – sorri surpresa. — Eu não estava planejando urinar em você ou te queimar de alguma forma. E sobre objetos perfurantes, concordo plenamente. Seria muito perigoso. E... Você disse punho?
— Sim, nada de punho, mas sinta-se à vontade para usar vibradores, cintas ou qualquer coisa que pareça um falo.
— Ok. – concordei. — Algo mais que queira me dizer?
— Eu quase sempre estou preparada para visitas surpresas. – respondeu.
— Visitas surpresas? Poderia ser um pouco mais clara? – indaguei, confusa.
— Sexo anal.
— Aaah... Entendi. – sentei sobre minhas panturrilhas. — Sem visitas surpresas, hoje.
— Podemos continuar agora? – Sarah perguntou, me olhando.
— Se importaria se déssemos uma pequena pausa? Estou com fome.
— Tudo bem. Imaginei que você estaria com fome, por isso trouxe pizza. – disse Sarah.
— Vamos comer na sala, assistindo alguma coisa. – desci da cama e peguei o roupão pendurado na cabeceira. — Quer suco? Refrigerante ou algo alcoólico?
— Suco. – Sarah respondeu, sentando na cama. Peguei o outro roupão e ofereci para ela. — Eu não funciono muito bem sem combustível.
— Você tem um belo motor V8. – Sarah brincou. — Alta performance, mas precisa de muito combustível para funcionar.
— É, sou como uma BMW. – embarquei na brincadeira. — E você?
— Eu sou um Tesla, elétrico e com bastante autonomia.
Ri ao ouvi-la.
— Eu gosto de clássicos. Meu primeiro carro foi um Ford Mustang GT da década de 60. Era do meu avô e estava parado na garagem da casa dos meus pais desde o falecimento dele. Quando consegui a carteira de motorista, meu pai me deu ele. Gastei meus primeiros salários da polícia consertando aquela velharia, que agora está acumulando poeira guardada novamente na garagem da casa dos meus pais. – expliquei.
— Mustang? É um clássico mesmo. – Sarah vestiu o roupão. — Eu prefiro carros automáticos. Ganhei meu primeiro carro no meu aniversário de 18 anos.
— Eu perdi a virgindade dentro do Mustang. Ele tem valor sentimental.
— Ok. Quero conhecer o tal Mustang. – disse Sarah.
— Que carro você ganhou aos 18 anos?
— Um Audi A3 azul. Meu pai é um pouco extravagante. – Sarah sorria.
— Nossa... – abri levemente a boca. — Esse modelo vale mais de 250 mil. Seu pai deve ter um bom emprego.
— Tem, mas por que falar nele agora, né? – Sarah se aproximou de mim. — Eu vou te apresentar para ele. Tenho certeza que ele vai mudar de opinião sobre você.
— Seu pai não gosta de mim? Mas por que ele não gosta de mim? – franzi a testa.
— Ema...
— Sarah, quem é o seu pai? – indaguei com firmeza. Sarah respirou fundo.
— Promete não surtar comigo? – ela perguntou me deixando intrigada.
— Quem é o seu pai?
— Júlio Vasquez.
— Como? – sentei na cama, olhando na direção do rosto de Sarah. Eu conhecia aquele nome. O dono dele havia me afundado em Santa Mônica.
— Desculpa, Ema. – Sarah desviou o olhar para baixo.
— Sarah, olhe nos meus olhos e diga por que está comigo? – indaguei desconfiada da aproximação de Sarah.
— É uma longa história, Ema, mas te garanto que os meus sentimentos por você são verdadeiros. – disse ela. — Eu conheço o temperamento do meu pai. E foi um alívio quando a minha mãe pediu o divórcio.
— Sarah, você armou o nosso encontro? A Norman está por trás disso também? – perguntei chateada.
— Não, ela não sabe que eu vim para cá por sua causa. Você pode me julgar, Ema. Pode até me xingar. Você tem o direito de ficar zangada comigo, mas por favor acredite em mim. Eu realmente gosto de você. – Sarah insistiu.
— Você é filha do homem que mandou executar o Alfredo. – respirei fundo.
— Ema, eu não compactuo com a conduta do meu pai. Nem somos tão próximos. – ela respondeu.
— Ele sabe que você veio atrás de mim? – indaguei.
— Sim. – Sarah sentou ao meu lado. — Quando falei para o meu pai que havia conhecido a filha do prefeito de Santa Mônica, ele me falou sobre você. Disse que você e seu parceiro tinham torturado e forçado o Alex a entregar o traficante que o matou semanas depois. A irmã do meu pai ficou devastada com a perda do filho e pressionou meu pai a buscar justiça contra os culpados.
— Eu fui interrogada por horas. Colheram o meu DNA. Apesar do seu primo ter dito com todas as palavras que eu não bati nele, nem o ameacei. Seu pai te contou isso? – me levantei subitamente.
— Eu li o processo, Ema. Eu sei que você é inocente, mas o meu pai acha que você foi conivente com o Alfredo.
— Eu era inexperiente, e o policial que eu admirava fez algo inadmissível, mas eu não pude evitar. Talvez o seu pai ache que me sepultar aqui não seja o suficiente, mas acredite, foi. Perdi a oportunidade de ser promovida e ainda vivo com a culpa de ter convencido o seu primo a sair do carro. Isso não parece o suficiente? Seu pai acabou comigo, e tudo bem, talvez eu mereça isso. Aceitei a punição, mas parece que nada é o bastante para ele. Por isso, jogou sujo e te enviou para cá. Achavam que arrancariam uma confissão minha? E depois, Sarah? Você correria até ele e sabe o que ele faria comigo? Usaria um dos capangas para me matar. Você se prestou a isso? Que tipo de pessoa é você?
— Não, Ema! – Sarah disse alto, se erguendo na minha frente. — Quando meu pai mencionou que planejava acabar com você, eu disse que provaria sua inocência. Pedi tempo. Ele me deu uma semana. É isso, Ema. Mesmo que você tivesse ajudado seu parceiro, eu ainda iria te defender, porque não acho que um erro justifica outro.
— Eu prendi seu primo, mas não o machuquei. – respondi. — Sempre tentei fazer o certo, Sarah. E continuo me ferrando até hoje por cruzar o caminho de babacas como o William e como seu pai, que se acham donos do mundo. – esbravejei.
— Está certa. Meu pai é um grande babaca. – Sarah se aproximou um pouco mais. — Não sou sua inimiga. Tudo que fiz foi para te proteger.
— Você queria proteger uma estranha que supostamente coagiu seu primo a dar um testemunho que o fez perder a vida? – indaguei.
— Exatamente, assim como você fez um juramento ao entrar na polícia, eu também fiz ao me tornar advogada. Eu defendo as pessoas, Ema. Não estou aqui para te punir. Vim te proteger de alguém que guarda muita mágoa de você.
— Vai me proteger me levando para a capital? Quanto tempo vou permanecer viva? Hm?! – cruzei os braços.
— Meu pai terá que me matar primeiro para conseguir matar você. – disse Sarah. — Não sou uma advogada neste momento, sou uma mulher apaixonada que faria qualquer coisa para proteger a pessoa que ela ama. Se isso significa ficar contra meu pai, tudo bem. Eu fico.
— Sarah...
— Por favor, Ema. Começamos mal, escondi a verdade de você, mas me diga, aceitaria minha ajuda se soubesse que Júlio é meu pai?
— Não.
— Você vai terminar comigo? – Sarah me olhava com tristeza no olhar.
— Eu não sei o que fazer, mas preciso que saia da minha casa.
— Não me afasta, por favor.
— Acabei de descobrir que fui vítima de uma armação. Preciso de um tempo para digerir isso. – respondi.
— Ema, eu amo você. – Sarah segurou em meu rosto. — Juro que estou dizendo a verdade.
— Preciso que você me deixe sozinha. – falei seria.
— Ema...
— Vá embora. – tirei as mãos dela do meu rosto.
— Eu vou, mas me procure quando estiver disposta a conversar. – disse ela, antes de caminhar em direção ao banheiro para pegar sua roupa.

DOMINADORA POR ACASO (Sáfico)Where stories live. Discover now