Capítulo CXLIX

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(Ema narrando)


Fui para a casa de Sarah no final do nono dia, com ela ao volante enquanto eu descansava no banco do passageiro com o braço em uma tipoia e o abdômen dolorido. As memórias dos hematomas eram presentes, mas optei por suprimi-las. Concentrei-me em Sarah, que dirigia com cautela e atenção ao trânsito.
— Conseguiu falar com Lourdes? –  perguntei.
— Não, desisti. Não quero mais envolver ninguém nisso. As pessoas se machucam. – respondeu ela.
— É verdade, mas há uma frase que diz que quando os bons se calam, o mal prevalece. – comentei.
— Sim, mas esse ditado sugere que o mal tenha um papel relevante no governo do país? Quem acreditaria que o secretário de segurança é um criminoso? – ponderou Sarah, com um questionamento válido.
A experiência sob o controle de Júlio revelou sua crueldade sem limites. Coloquei minha mão livre em cima da coxa de Sarah, fazendo um leve aceno com a cabeça.
— Por enquanto, minha prioridade é minha recuperação, e pouco importa o que aquele verme está fazendo agora. Em algum momento ele vai cair, e espero que seja de bem alto, para que a queda o arruíne. – falei, contendo minha raiva. Ainda que Júlio fosse um monstro, era o pão de Sarah.
— Você não merecia ter passado por nada do que passou. – disse Sarah, com lágrimas nos olhos e a voz embargada pelo peso da emoção. — Sinto como se eu tivesse causado tudo isso.
— Não sinta. Seu pai estaria me perseguindo, esteja eu com você ou não. – respondi, colocando minha mão livre em sua coxa. — Vamos ficar bem.
— Não durmo em casa desde o casamento, porque não suporto a ideia de esbarrar com Norman. Acredita que ela aceitou participar dessa palhaçada de casamento por uma droga de mesada?
— Norman sempre foi movida pelo dinheiro. Ela gosta de ostentar, e nosso atrito começou justamente pelo modo de vida dela, sempre causando confusões por se achar dona da cidade. Pelo menos aqui, ela é só mais uma babaca. E não é problema meu, deixarei que outros lidem com ela. – respondi, acariciando a coxa de Sarah.
— Tome cuidado, Ema.
— Com Norman? – arqueei as sobrancelhas.
– Não, comigo. São quase 10 dias sem sexo. – riu Sarah.
— Não parece que estou há dias sem sexo, no máximo um dia e meio. E pela minha situação, isso vai se estender.
— Se precisar de uma mãozinha, estou aqui. – piscou ela para mim.
— Realmente preciso tomar cuidado com você. – sorri.

***

Sarah estendeu a mão direita para me ajudar a sair do carro, seus dedos envolvendo os meus com firmeza enquanto Norman nos observava atentamente, segurando um cigarro artesanal entre os lábios, uma nuvem de fumaça pairando ao seu redor.

— Bem-vinda, Ema. – disse Norman, com um tom provocativo, enquanto soltava fumaça pelos lábios. — Enquanto você estava fora, dei uma boa olhada na sua moto. Já que aparentemente vamos compartilhar a mesma mulher, acho que você não se importa de dividir também a moto, não é?
— Minha moto é intocável. – respondi com firmeza.
— Ema! – Sarah protestou.
— E Sarah também. – finalizei, afirmando meu compromisso com ela.
— Oh, lembrou que eu existo? Pensei que só a moto importava agora. – Sarah reclamou, com uma pontada de ciúme em sua voz.

— Você sabe que é mais importante que qualquer coisa. – toquei o rosto de Sarah antes de beijá-la suavemente.

— No passado, as amantes eram mais discretas. – comentou Norman.

— Ela já vai começar a me irritar. – Sarah resmungou, afastando os lábios dos meus com uma expressão de descontentamento.

— Norman, não tem outra pessoa para perturbar? – questionei. — Estamos exaustas, dê um tempo.

Sarah fechou a porta do carro e seguimos em direção à casa.

— Ema, deveria ter visto o discurso do secretário. Foi emocionante. Você vai receber uma medalha pela bravura. Você e seu amigo idiota se meteram em uma grande encrenca. – Norman sorriu enquanto falava.

— Norman...

— Amor, ignore essa criatura. Ela só quer te provocar. – Sarah se colocou entre nós e colocou as mãos em meus ombros. — Vou preparar um banho quente para você e pedir algo gostoso para comermos.

— Adorei a ideia da banheira. E, aliás, sua cama é incrivelmente confortável, Sarah. Quando terminar de cuidar da moribunda, podemos compartilhar os lençóis. – provocou Norman.

— Ela só está tentando te provocar. Não dê ouvidos. – Sarah disse baixinho, virando-se para Norman. — Tire suas coisas do meu quarto se não quiser que eu as queime. Fui clara? Você sabe que sou louca o suficiente para cumprir minhas ameaças.

— Você é decidida, Sarinha. – Norman se aproximou dela. — Lembro do motel em Santa Mônica, foi divertido. Se quiser relembrar, sabe onde me encontrar.

— Que raiva de você. – Sarah bufou.

— Norman, estou cansada. Você não é a pessoa que eu queria encontrar agora, mas aqui estamos. Não quero brigar com você, mas se continuar falando bobagens, vou resolver nossas desavenças de algum jeito. – falei com determinação,  apesar da exaustão.

— E como pretende fazer isso? – Norman soltou a fumaça do cigarro em meu rosto.

Segurei sua blusa pela gola e a puxei para perto de mim.

— Não me provoque.

— Ema... – Sarah colocou a mão em meu ombro. — Vamos subir, okay? Deixa o Norman falando sozinha.

— Você é a intrusa, Ema. Estou na minha casa, com minha esposa. – disse Norman, olhando-me nos olhos.

— Antes deste casamento forçado, eu e Sarah já estávamos apaixonadas. Tenho um vínculo com ela que você nunca terá. – retruquei.

— É... Mas legalmente, eu sou a oficial, você é a extra. Como se sente nesse papel, Ema? – provocou Norman.

— Chega, Norman! – Sarah interrompeu. — Você começou essa guerra. Lembra quando atacou a Ema dentro da casa dela? Ela tem razão para não querer ver sua cara nem pintada de ouro.

— Sinceramente, acho que vocês combinam. Ema é sem graça e você é uma vadiazinha. – provocou Norman.

— Cale a boca! E apague isso. – retirei o cigarro da boca de Norman e o apaguei.

— O que foi isso, Ema? Vai me censurar? Está toda machucada e ainda quer brigar? – Norman provocou.

— Vamos, já estou estressada o suficiente por hoje. – desviei o olhar para Sarah e estendi a mão.

DOMINADORA POR ACASO (Sáfico)Where stories live. Discover now