Capítulo XXII

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Sarah estacionou o carro em frente à sua casa, desligou o motor e retirou o cinto de segurança.
— Pronta para saborear a maravilhosa lasanha do supermercado? – Sarah indagou com um pequeno sorriso no rosto. — Tenho um ótimo vinho para acompanhar.
— Aceito a lasanha, mas vou precisar rejeitar o vinho. – respondi.
— Ah, sério? Por quê? – Sarah me olhava.
— Estou trabalhando. Em outra oportunidade, aceito. Certo? – tirei o cinto.
— Tá. – Sarah pegou a chave do carro e saiu pela porta. Eu a segui. Ao chegarmos à casa dela, notamos que a fechadura havia sido forçada.
— Estava assim quando saiu? – indaguei.
— Não. – Sarah me olhou confusa. — Acha que alguém entrou na minha casa?
— Eu vou dar uma olhada dentro da casa. – avisei, levando a mão direita ao meu coldre. — Vai para o carro, te chamo daqui a pouco.
— Eu quero entrar com você. – Sarah insistiu.
— Prefiro entrar sozinha. – falei, abrindo a porta lentamente. Sarah permaneceu ao meu lado, apesar da minha recusa. Adentrei a sala e tateei a parede em busca do interruptor. Ao encontrá-lo, acendi a luz e olhei ao redor. Tudo parecia em ordem.
— Oi?! – disse Sarah, indo em direção ao corredor. Logo a acompanhei e segurei-a pelo antebraço. — Atrás de mim, por favor.
Sarah concordou com a cabeça e me permitiu passar à frente. Segui até a cozinha, liguei a lâmpada e conferi o cômodo. Não havia ninguém além de nós. Nos dirigimos ao quarto de Sarah e encontramos a porta entreaberta. Olhei para Sarah e fiz sinal de silêncio. Ela assentiu com a cabeça. Dei passos cautelosos até a porta, onde pude ouvir alguns ruídos, como molas se movendo.
Coloquei uma mão na maçaneta e levei a outra para minha arma, tirando-a do coldre. Empurrei a porta, escancarando-a, empunhei o revólver e ordenei:
— Mãos na cabeça, agora.
O barulho da cama cessou, e a luz se acendeu. Instintivamente semicerrei os olhos e virei-me na direção do corredor, notando que Sarah havia acendido a luz.
— Nossa... – respirei fundo. — Você me assustou. – confessei. Sarah estava com os olhos vidrados, olhando na direção da cama.
— Dani... – ela disse baixo, com um tom de surpresa. Me virei, olhando na mesma direção. Havia uma mulher sobre a cama com os pulsos algemados na cabeceira, sua boca estava coberta por uma fita cinza. E um volume debaixo do cobertor indicava que ela não estava sozinha.
— Você disse Dani? A namorada da sua amiga? – indaguei, voltando meu revólver para o coldre.
— Essa mesma. – Sarah respondeu. Minha suspeita se comprovou quando uma segunda mulher emergiu de dentro do cobertor, nos olhando com um sorriso no rosto.
— Oiê! Surpresa! – disse ela. Sarah e eu nos entreolhamos.
— Ela é a Mari. – Sarah disse com um fio de voz, parecendo tão chocada quanto eu.
— Então, essa é a famosa Ema? – a amiga de Sarah indagou.
— É... Mas o que faz aqui? Você se adiantou um pouquinho, né? – Sarah andou em direção à cama.
— Queria te fazer uma surpresa. – Mariana sentou na cama, e então pude notar sua nudez. Abaixei minha cabeça, fitando o chão.
— Bem, arrombar minha casa e transar no meu quarto, com certeza é uma forma de me surpreender. – disse Sarah.
— Eu precisava conferir se a tal da Ema não era uma maluca como a Norman. Sem ressentimentos, Ema. É que a Sarah tem me causado cabelos brancos de tanta preocupação. – disse Mariana, certamente me olhando.
— Você pode se cobrir, Mari? E solta a Dani. Eu quero apresentar vocês de forma decente para a Ema. – Sarah respirou fundo, parecendo inquieta.
— Eu vou esperar na sala. – saí do quarto antes que Sarah pudesse se opor.
Esperei por longos minutos no sofá, captando o burburinho do corredor que indicava a conversa de Sarah com as amigas. Quando finalmente surgiram, ergui-me do sofá.
— Lamento o susto, Ema. – disse Mariana, uma mulher alta e atlética vestida com um justo vestido azul e saltos brancos. Seu cabelo escuro estava preso em um coque malfeito, e seu rosto não tinha maquiagem. Cumprimentamo-nos, e forcei um sorriso, revelando meu desconforto.
— Tudo bem.
— Imagino que Sarah tenha falado sobre mim para você, assim como falou de você para mim. – continuou Mariana, sentando-se no sofá com sua presença imponente. Daniele, a segunda mulher, aproximou-se com um sorriso gentil, vestindo calça jeans e blusa de alças finas.
— Sou a Dani, prazer. – ela beijou meu rosto.
— É um prazer conhecê-las. – respondi, retomando meu lugar.
— Gostariam de beber algo? – Sarah perguntou, em uma tentativa de deixar a ocasião mais descontraída.
— Aceito. – disse Mariana. — Whisky. Ainda se lembra, Sarah? Bebidas e mulheres são melhores quentes.
— Boba. – Sarah sorriu, deixando a sala. Dani se sentou no braço do sofá, ficando ao lado de Mariana.
— Ema, nos desculpe pelo ocorrido no quarto da Sarah. A gente se empolgou. Não foi, amor? – Daniele apoiou o braço sobre os ombros de Mariana. — Não consigo deixar as mãos de Mari longe do meu corpo por muito tempo.
— Se vai se comportar como uma cadela no cio, melhor por sua coleira. Pegue-a na mala e coloque-a. Vá. E não demore, tenho um trabalho para você. – disse Mariana.
— Sim, senhora. – Daniele se levantou. — Com licença, Ema. – seguiu para o corredor.
— Então, Ema, quais suas intenções com a Sarah? – indagou Mariana, lançando-me um olhar penetrante. — Sei que estão transando. O que pensa sobre os gostos dela?
— Eu... acho legal. – respondi, afrouxando a gola da camisa do meu uniforme.
Sarah retornou para sala segurando uma bandeja com dois copos de whisky e outros dois com suco. Ela apoiou a bandeja sobre a mesa de centro e se sentou ao meu lado, inclinando-se para frente para conseguir ver o rosto de Mariana.
— Onde está a Dani?
— Foi pôr a coleira. – Mariana pegou um dos copos com whisky.
— O que está planejando? – Sarah observava a amiga.
— Nada demais.
— Tá, não precisa me contar os detalhes. – Sarah pegou um dos copos com suco. — Isso é para você, Ema.
— Obrigada, mas receio que preciso voltar ao trabalho agora. – recebi o copo.
— Fica um pouco mais, Ema. – Sarah insistiu, segurando minha mão esquerda.
— Tudo bem. Eu fico. – sorri de leve.
— Obrigada. – Sarah tocou suavemente meu rosto. — Vou preparar a mesa. Quer me ajudar?
— Sim. – pus o copo sobre a bandeja.
— Vamos. – Sarah se levantou, estendendo a mão para mim. Levantei-me também. Daniela voltou à sala com uma coleira em volta do pescoço, marcada com as siglas MF, e uma corrente pendurada.
— Comecem a comer sem nós. – Mariana disse, colocando o copo na bandeja. — Vou brincar um pouco com minha cadela. – havia um sorriso malicioso em seu rosto.
Minha mente estava cheia de dúvidas, as amigas de Sarah pareciam não se importar com nossa presença.
— Vamos sair daqui logo. – Sarah sugeriu, guiando-me em direção ao corredor.

DOMINADORA POR ACASO (Sáfico)Where stories live. Discover now