Capítulo CXXX

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(Ema narrando)

O café da manhã transcorreu tranquilamente, e depois de despedir-me de Sarah, preparei-me para a corrida, equipada com uma garrafa d'água e um relógio para monitorar o tempo. Depois de algumas voltas na pista de cooper, fiz uma pausa para descansar à sombra de uma árvore, enquanto meus pensamentos fervilhavam. Ao retornar à casa de Sarah, deparei-me com o carro de Nicolas estacionado na rua, o que me fez acelerar o passo e entrar na residência. Ao subir as escadas, dei de cara com Nicolas saindo de um dos quartos de hóspedes com uma mochila nas costas.
- Então, ia partir sem nem me dar um "adeus"? - perguntei, cruzando os braços.
- Estou tentando não interferir na sua vida, Ema. - respondeu ele, sem seu habitual humor.
- Quando é que você interferiu na minha vida? - questionei.
- Acredito que nossos caminhos estão se distanciando, Ema. Você já não é mais uma simples policial de cidade pequena. Olhe só para a casa onde vive. Você está em outro patamar agora. Enquanto isso, eu ainda estou lutando para alcançar minhas metas.
- E para alcançar suas metas, você precisa me excluir da sua vida?
- Não, mas você está sendo egoísta.
- Está brincando, né? - bufei. - Preocupo-me com você, por isso tentei te alertar sobre os perigos que estava enfrentando.
- Ema, você sempre se intromete onde não é chamada. - rebateu Nicolas, deixando-me chocada.
- Certo. Você tem razão. Você não quer minha ajuda. - abri caminho para Nicolas. - De qualquer forma, obrigada por ter sido meu amigo. Eu não teria suportado a vida em Santa Mônica sem você.
- Agora, você não precisa mais de mim, Ema. Tem a Sarah.
- É assim que você acha que eu ajo? Substituo pessoas quando é conveniente? Jamais faria isso com você, Nick.
- Não importa mais, Ema. Você desconfia da Verônica como se ela fosse uma criminosa, quando na verdade ela está tentando dar uma vida digna para a Vanessinha.
- Tem razão, eu não confio cegamente na Verônica como você. Se ela é uma vítima, por que não denuncia o Tony? Está claro para mim que ele é um criminoso que explora mulheres vulneráveis. Ou Verônica é vítima ou é cúmplice dele.
- Pare com essa bobagem! - Nicolas esbravejou. - Como pode desconfiar tanto da Verônica? Você a conheceu. Ela permitiu que você cuidasse da Vanessinha. Como pode acusá-la dessa forma?
- Nick, quando conheci a Layla, ela parecia uma pessoa maravilhosa, mas na verdade era um lobo em pele de cordeiro. Quase me arruinou. E você está seguindo pelo mesmo caminho. Não deixe que a paixão te cegue, por favor. Abra os olhos e dê o benefício da dúvida. É melhor pedir desculpas por excesso de precaução do que baixar a guarda e sofrer as consequências.
- Nesse caso, sugiro que faça o mesmo, Ema. Abra os olhos em relação à Sarah. Você sabe quem a criou. Não é possível que ela seja tão inocente quanto você acha.
- Está falando sério? Acha mesmo que eu estaria com alguém em quem não confio? - perguntei.
- Digo o mesmo. - Nicolas passou por mim e seguiu para a escada sem olhar para trás.
- Boa sorte. - observei-o sumir de vista.

***

Após um longo banho revigorante, me aprontei e me dirigi à delegacia indicada por Pedroso. Ao chegar, percebi alguns olhares curiosos voltados para mim. Dirigi-me ao balcão em busca de informações e fui encaminhada à sala do delegado, onde me deparei com uma delegada.
- Ema Campos? - indagou ela quando entrei.
- Sim. - respondi. - A senhora é a...?
- Não precisa me chamar de senhora. Meu nome é Marina Barreto. - ela estendeu a mão para cumprimentar-me. Era uma mulher madura, de cabelos curtos e loiros mesclados com grisalho, estatura média e corpo levemente atlético. Vestia-se de forma formal, com calça social cinza, camisa branca e um cardigan da mesma cor. Sua maquiagem era discreta, e seus olhos castanhos eram acentuados por um par de óculos redondos.
- Entendi. - concordei.
- Eu me perguntava quando nos encontraríamos. - comentou ela. - Por favor, sente-se.
- Marina, deve ter ouvido alguns rumores sobre mim.
- Eu não dou ouvidos a boatos, Ema. Para mim, você é como uma página em branco, só conhecerei mais sobre você quando estiver trabalhando aqui.
- Isso é reconfortante. - falei, tomando lugar à frente de sua mesa.
- Quando você pode começar?
- Estou disponível a partir de agora. - respondi prontamente.
- Ótimo. Vou agendar seus exames. Assim que tivermos os resultados em mãos, você pode iniciar suas atividades.
- Entendido.
- Hoje, fique por aqui, conheça a equipe e familiarize-se com o ambiente. - sugeriu Marina.
- Obrigada, sen... Marina. - corrigi-me rapidamente.
- Você deve ser uma excelente profissional. O próprio secretário de segurança me ligou ontem à tarde para recomendá-la.
Fiquei em silêncio por um momento.
- Pode sair, Ema. Fique por aqui até a hora do almoço.
- Com licença. - levantei-me da cadeira. - Foi um prazer conhecê-la. - e saí da sala, percorrendo os corredores e observando o movimento dos policiais, que pareciam bastante ocupados.

DOMINADORA POR ACASO (Sáfico)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora