Capítulo CXXXVIII

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A manhã se desdobrou diante de mim como tantas outras. No entanto, esse dia guardava surpresas que eu mal podia antever. Acompanhada por Sarah, compartilhamos um café reconfortante na cozinha. Lourdes, atenciosa como sempre, havia feito uma gentileza ao passar na padaria e trazer alguns pães de queijo, cujo aroma delicioso se mesclava ao do café, preenchendo o ambiente com uma sensação acolhedora e familiar.
Enquanto degustava o café da manhã, a conversa com Sarah funcionava como um bálsamo para as preocupações que me assombravam. Naquele momento, parecia que o peso do mundo se dissipava, pelo menos temporariamente. Com sorte, os esforços de Catarina para reunir provas contra Júlio dariam frutos, e ele finalmente seria responsabilizado por seus crimes. Embora essa perspectiva representasse apenas uma pequena faísca de esperança, eu a agarrava com fervor, ansiosa por um vislumbre de justiça que pudesse ser feito.
O sorriso radiante de Sarah à minha frente, saboreando sua refeição matinal, era um lembrete reconfortante de que, mesmo em meio às adversidades, havia momentos de alegria e companheirismo. Era reconfortante tê-la ao meu lado, compartilhando não apenas o café da manhã, mas também os sonhos e aspirações. E entre eles, estava o meu desejo há muito acalentado de possuir uma motocicleta. Hoje seria o dia em que finalmente iríamos à concessionária, e eu realizaria esse desejo, com Sarah ao meu lado, tornando o momento ainda mais especial.
Às 10 da manhã, Sarah e eu partimos rumo à concessionária, acomodadas confortavelmente no carro dela. Enquanto eu dirigia, meu coração palpitava com a expectativa da realização de um sonho tão aguardado. Ao chegarmos, Sarah optou por me deixar à vontade para lidar com os detalhes da compra, confiante em minha capacidade de negociar com o vendedor e escolher a moto perfeita para mim. Com um sorriso de incentivo, ela permaneceu ao meu lado, oferecendo apoio silencioso enquanto eu me aventurava nessa nova etapa.
Na concessionária, o ambiente era preenchido pelo brilho metálico das motocicletas dispostas meticulosamente em fileiras impecáveis. O aroma característico de pneus novos e couro impregnava o ar. O vendedor, um homem de semblante confiante e conhecimento profundo sobre as máquinas, nos recebeu calorosamente, pronto para compartilhar suas percepções sobre cada modelo.
Enquanto nos guiava pelo showroom, o vendedor detalhava as características e desempenho de várias motos, desde as ágeis esportivas até as robustas. No entanto, era a imponente Harley Davidson que capturava minha atenção, com sua presença imponente e aura de rebeldia.
— Então, o que achou da nossa seleção até agora? Temos opções para todos os gostos e estilos de pilotagem. –  disse o vendedor, com um sorriso amistoso.
— Realmente, vocês têm uma variedade impressionante de motos aqui. Mas confesso que a Harley Davidson chamou muito minha atenção. Sempre sonhei em possuir uma. – admiti, com um sorriso radiante no rosto.
— Ah, a Harley é uma escolha excelente. É uma máquina icônica, com um desempenho inigualável. E esta aqui é uma das nossas melhores, com todos os recursos de última geração e um design que realmente se destaca na estrada. –  ele apontou para frente, me guiando até o modelo desejado.
— É realmente incrível... – murmurei, admirando a beleza dos contornos da moto. — E quanto ao preço e às opções de financiamento? – perguntei, deixando meu vislumbre por um instante.
— O valor você trata comigo. A moto é um presente para ela. – disse Sarah, recebendo o olhar do vendedor. — Vamos deixar a Ema admirando a moto, enquanto resolvemos a parte burocrática. – ela sugeriu.
— Claro, vamos para o meu escritório e discutimos todos os detalhes. – disse o vendedor, liderando o caminho.
— Sarah, eu posso saber o valor, afinal vou te pagar depois. – murmurei baixo. Sarah tocou meu rosto e aproximou seus lábios do meu ouvido.
— Pense nisso como um presente de casamento antecipado. – ela sussurrou, depositando um beijo em minha bochecha em seguida. Olhei para ela, confusa. Aquele não era nosso acordo.
— Você não tem jeito, Sarah. – resmunguei, estalando a língua em reprovação, mas com um sorriso nos lábios.

***

No fim da manhã, eu estava montada na minha moto, em frente à casa de Sarah. Sarah estava de pé ao meu lado, com um sorriso caloroso no rosto, observando-me com olhos brilhantes enquanto eu acelerava o motor, ansiosa para sentir a emoção pulsante da estrada.
— Eu acho que nunca havia te visto tão animada, parece uma criança que ganhou um brinquedo novo. – comentou ela, seu sorriso se alargando ainda mais.
— É um brinquedo caro. – respondi, desligando o motor e me virando para encará-la. — Quando vou poder te levar para dar uma volta?
— Depois, amor. Eu vou dar uma passada no escritório. Tenho um problema para resolver, mas você pode dar umas voltinhas pelo condomínio. –  explicou Sarah, dando-me um selinho carinhoso. — Eu volto logo, tá?
— Tudo bem. Vou dar uma volta para inaugurar a minha moto. E depois vou aprontar o almoço. Você volta que horas? – perguntei.
— Amor, até as duas devo estar de volta. Não precisa me esperar para almoçar, tá? – disse ela.
— Tudo bem, mas vou esperar.  – respondi com um sorriso.
— Põe o capacete, mocinha. – Sarah apontou para o capacete pendurado no guidão da moto.
— Vou colocar. – concordei, pegando-o e prendendo-o debaixo do queixo.
— Que delícia, hein?! – Sarah mordeu o lábio inferior, seu olhar travesso denunciava sua excitação. — Quando acho que você não consegue ficar mais gostosa, você se supera.
— Você está muito apaixonada. –  murmurei, levando uma das mãos para a nuca de Sarah, e beijando seus lábios com delicadeza. Ao fim do beijo, sorrimos ao mesmo tempo. — Hoje estou de folga, e vou te mimar um pouquinho, então chegue cedo.
— Você não pede, meu amor, você manda. – Sarah piscou para mim, seu sorriso era radiante. — Não demoro. – ela disse, me dando um selinho. — Te amo.
— Te amo também. – respondi, acariciando o rosto dela antes de dar um beijo na ponta do nariz. — Até logo.
Sarah se afastou de mim, indo em direção ao carro dela. Antes de abrir a porta, ela me soprou um beijo. Sorri, sentindo o calor desse gesto de despedida, e acenei para ela com a mão. Observei-a partir, seu carro se distanciou gradualmente até desaparecer da minha vista.
Com um suspiro de contentamento, voltei minha atenção para minha moto. Dei partida, deixando o motor ronronar sob mim enquanto me movia pelas ruas tranquilas do condomínio. Saboreei cada curva e reta. Não tinha destino certo, apenas queria sentir a brisa no rosto e a emoção pulsante do motor, deixando-me envolver pelo espírito da liberdade.
Quando coloquei a moto na garagem, pendurei o capacete e deixei a chave no contato, sentindo-me ainda pulsante de adrenalina. Caminhei para o interior da casa, meus passos lentos ecoavam no silêncio da tarde. Subi as escadas até o quarto e tomei uma ducha revigorante. Enquanto secava meus cabelos com o secador, deixei que a tranquilidade da água me acalmasse.
Vesti uma roupa confortável - uma calça de moletom cinza e uma regata branca - e desci as escadas em direção à cozinha. Meu olhar capturou o esfregão largado no chão, indicando que Lourdes havia interrompido a limpeza. Preocupada, chamei por ela:
— Lourdes?!
Avancei alguns passos em direção à mesa e me deparei com pegadas distintas no chão molhado. Pareciam ser de duas pessoas diferentes, uma delas com um tamanho consideravelmente maior que o de Lourdes. Um arrepio percorreu minha espinha e, instintivamente, recuei, retornando para o corredor. Passei as mãos pelos bolsos, buscando meu celular, mas percebi que o havia deixado na bancada da pia do banheiro.
Com o coração acelerado, avancei em direção à escada, consciente de que algo de ruim havia ocorrido com Lourdes. Tentei subir os degraus silenciosamente e, ao chegar ao andar superior, dirigi-me diretamente ao quarto que dividia com Sarah. Corri para o closet em busca da minha pistola, porém ao abrir a gaveta, o som metálico de uma arma sendo engatilhada ecoou atrás de mim. Respirei fundo, ciente de que um invasor armado estava à espreita.
— O que você quer? – indaguei, recebendo apenas silêncio como resposta. Um objeto rígido atingiu a parte de trás da minha cabeça, desequilibrando-me e fazendo-me tombar ao chão. Com a cabeça latejando e a visão turva, forcei-me a encarar o invasor, cujo rosto estava oculto por uma balaclava. Apesar da minha resistência, minha visão se obscureceu e acabei perdendo os sentidos.

CONTINUA...

DOMINADORA POR ACASO (Sáfico)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora