Capítulo CLV

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Eu estava na varanda do quarto, debruçada na grade, quando Nicolas retornou com o café da manhã.

— Ema, eu fiz sanduíche.

— Aquela criatura irritante deixou a cozinha? – indaguei, voltando minha atenção para Nicolas.

— Ela tá esparramada no sofá da sala, fazendo vídeo-chamada. Tá convidando os amigos para uma festa.

— Uma festa aqui? – respirei fundo, enquanto Nicolas assentia com a cabeça, indicando que sim. Então,  prossegui.— — Norman não pode simplesmente tomar conta da casa da Sarah como se fosse dela. – comentei, preocupada com o desconforto que essa situação poderia causar à Sarah.

— Concordo. Talvez devêssemos falar com ela e tentar convencê-la a desistir da ideia. – Nicolas sugeriu.

— Você acha possível conversar com Norman? Ela vai dar uma festa só para nos incomodar. Acredito que tentar conversar com ela não vai adiantar em nada.

— Ela realmente não vai dar trégua. E honestamente, não sei por quanto tempo conseguirei suportar essa situação. – falei enquanto me dirigia para perto de Nicolas. — Preciso fazer algo, Nick. Não posso permitir que o Júlio continue controlando a vida da Sarah. Você viu só o tipo de pessoa que ele trouxe para dentro desta casa?

— Ema... – Nicolas colocou a bandeja com o café da manhã sobre a cama e olhou na direção da porta que dava acesso ao corredor, parecia conferir se Norman estava ali. — Ema, o cara quase matou você. – disse ele em tom baixo. — Tem noção de como foi traumático ser raptado? Eu achei que aqueles caras iriam cancelar meu CPF. E quando o pai da Sarah mandou aqueles caras te baterem, eu achei que você não ia suportar. Eu queria enfiar uma bala em todos eles, mas não posso, não quero me igualar àqueles filhos da puta.

— Eu tentei deixar pra lá, Nick, mas ele envolveu você e a Sarah. Eu não vou permitir que o Júlio vença. Eu serei cuidadosa e esperarei o tempo que for necessário, mas irei buscar justiça. E se Júlio não for preso, encontrarei outra maneira de puni-lo.

— Ema, a Lourdes foi atacada, podia ter morrido se o atendimento médico demorasse. O pai da Sarah deixou claro que não tem piedade de ninguém. – Nicolas argumentou.

— Eu sei, mas não é justo o que ele está fazendo com a Sarah. Eu preciso fazer algo pra resolver isso.

— Ema, eu conheço uma pessoa maluca o suficiente pra te ajudar, mas a Sarah não vai curtir isso.

— Quem? – encarei Nicolas.

— A Catarina. – Nicolas se inclinou levemente na minha direção e cochichou no meu ouvido. — Ela é foda, tá na cola do Júlio há um tempão. E tem tentado convencer a Sarah a depor contra o pai, mas a Sarah não topou, acho que está com medo do que o pai pode fazer se souber disso.

— Como faço para falar com a Catarina? – indaguei.

— Ela me deu o cartão dela, mas deixei em casa. – disse Nicolas.

— Acho que ela tem os recursos que preciso pra fazer o Júlio pagar pelos crimes que cometeu. Eu não posso envolver ninguém da minha delegacia, a delegada não é confiável.

— E o seu novo parceiro? Gosta dele? – havia uma pitada de ciúmes no tom de voz de Nicolas.

— É um cara legal, mas não posso contar com ele. É um assunto pessoal.

— Hm. – Nicolas cruzou os braços. — Se eu ajudar você, eu vou ser seu parceiro de novo?

— Eu quero você bem longe do Júlio. Vai viver sua vida com a Verônica.

— Não estamos mais juntos. Eu falei pra ela que sabia que o Tony era o pai da Vanessinha, e ela não curtiu, me mandou ficar longe dela e da filha. Então, Ema, estou solteiro. Nada de mães solteiras por um bom tempo, acho que vou apostar em polícias femininas. O que acha da Catarina? Ela é bonita, mais velha que eu. E tem uma carinha de perigosa.

— Esse é o ponto, Nick. Cara de perigosa? Por que não namora uma mulher comum? Sem envolvimentos com criminosos ou distintivos? – questionei.

— Eu não controlo o meu coração

— Você não está pensando com o coração coisa nenhuma. – retruquei.

— Você tá pegando a filha do cara que quer seu fim. Você não tem muita moral pra me criticar, Ema.

— Pelo contrário, tenho conhecimento de causa para te aconselhar. É melhor você ficar longe de mulheres que podem te levar pra cadeia ou causar a sua morte.

— Fala aí, não é excitante?

— Não! É perigoso.

— Eu acho excitante. – Nicolas sorriu com malícia. — Aposto que a Catarina usa as algemas recreativamente.

— Você quer mesmo se envolver com uma investigadora? Boa sorte. – resmunguei.

— Quero, mas não sei como dizer isso pra ela. Como você faria? – Nicolas indagou. Andei em direção à cama, me sentei e peguei o copo com suco na bandeja.

— Você acha mesmo que sei como conquistar mulheres?

— Talvez você não seja a melhor opção, mas a ruiva da boate queria pegar você, então você não é tão ruim. Talvez se eu agir como você, eu fique um pouco mais interessante.

— Agir como eu? – franzi a testa. — Você está ficando louco.

— Ema, você não dá em cima das mulheres, elas dão em cima de você. Como faz isso? É o seu perfume? – Nicolas sentou ao meu lado.

— Como vou saber, Nick? A Layla me deixou, acha que ela teria me deixado se eu fosse irresistível?

— Toc toc. – Norman disse antes de entrar no quarto. — As duas bonecas querem participar da minha festa?

— Você não pode dar uma festa na casa da Sarah. – respondi.

— Enquanto, eu usar isso aqui. – Norman mostrou a aliança. — Tenho o direito de fazer o que eu bem quiser nessa casa. E vou dar uma festa queira você ou não. Entendeu?

— Deve respeitar as normas do condomínio, não pode fazer barulho sem a permissão do síndico. – retruquei.

— Ema, não seja tola. Sou filha de William Johnson e nora de Júlio Vélaz. Posso fazer o que eu bem quiser nesse condomínio. – Norman assegurou com arrogância.

— Seu pai pode ser relevante em Santa Mônica, mas está enganada se pensa que sua influência se estende além disso.

— Está subestimando meu pai. Ele vai se eleger prefeito desta cidade. Não se esqueça de votar nele, tá? – provocou ela.
— Ele vai precisar comprar muitos votos para que um político medíocre como ele vença a disputa pela prefeitura da capital.
— Como uma mulherzinha medíocre como você ousa falar mal do meu pai? – Norman deu passos em minha direção, enquanto Nicolas se levantava.
— Você não pode chegar perto dela. – interveio ele.
— Dê uma folga, guarda-costas. Eu não vou atacar a moribunda. – provocou Norman.
— Eu não preciso do Nicolas para lidar com você. – pus meu copo na bandeja e me levantei.
— Ema, fica atrás de mim. – Nicolas tomou a frente.
— Assim que meu pai tomar posse da prefeitura, vou pedir para ele demiti seus pais. – Norman ameaçou.
— Meus pais são professores concursados, sua idiota. Ocupam o cargo por mérito, não por indicação como o seu pai e seus irmãos. Você vem de uma família de oportunistas.
— Não ouse falar mal da minha família. – Norman avançou em minha direção.
— Chega! – Nicolas afastou Norman pelos ombros. — Saia daqui.
— Deixe, Nick. Se ela acha que pode me enfrentar, que venha. – mantive minha posição.
— Ah, eu posso! – Norman tentou se desvencilhar de Nicolas, mas ele rapidamente a imobilizou. — Chega, pelo amor de Deus! – Nicolas berrou. — Parecem duas crianças birrentas. Querem resolver isso na briga? Beleza, mas façam isso quando eu não estiver como o adulto responsável.
Respirei profundamente, buscando recobrar a serenidade.
— Desculpe, Nick. Perdi o controle, não vai se repetir.
— Está tudo bem. – disse Nicolas. — E quanto a você, saia daqui. – ele conduziu forçadamente Norman para fora do quarto.
— Me solte, seu brutamontes! – ela se debatia. Nicolas fechou a porta, deixando Norman do lado de fora. Ele sacudiu as mãos, como se livrando de poeira. — Precisamos tirar essa mulher daqui o mais rápido possível.
— Eu adoraria, mas não sei como fazer isso. – murmurei, sentando-me na cama, frustrada.

DOMINADORA POR ACASO (Sáfico)Where stories live. Discover now