Capítulo VIII

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Engoli em seco, sentindo meu rosto corar.
— Eu... Estou um pouco cansada. Podemos pedir a conta? Eu pago. – busquei um garçom com o olhar.
— Ema. – a mão de Sarah repousou sobre a minha. — Você é inexperiente?
— O quê?! – Olhei para ela, surpresa. — Eu tenho bastante experiência. Só... Trabalho muito e não tenho tido tempo para sair com ninguém.
— Vamos fazer do seu jeito, tá? – Sarah acariciou as costas da minha mão.
— O que isso significa? – franzi a testa.
— Acredito que você seja mais romântica.
— Não acha que está ultrapassando limites ao me analisar? – indaguei, movendo minha mão para a minha coxa.
— Desculpe. – Sarah cruzou os braços, me encarando. — Errei? Você só está com medo de mim? – seu tom era provocativo.
— Arrisquei minha vida dezenas de vezes para proteger estranhos. O medo não faz parte de mim. – respondi.
— Uau, ótima resposta. – Sarah aplaudiu.
— Você e a tal de mestra vão reatar. É apenas uma questão de tempo. – comentei.
— Não. Eu não vou perdoá-la. – Sarah afastou a cadeira, retirou a carteira do casaco, pegou algumas notas e as deixou sobre a mesa. — Tenha uma boa noite, Ema. – ela se levantou.
— Sarah. – chamei, incerta do que estava fazendo.
— Hm. – ela me encarou.
— Eu quero.
— O que você quer? – Sarah indagou, com um pequeno sorriso.
— Você já sabe. – recolhi o dinheiro e ofereci a Sarah. — Pegue. Eu pago a conta.
— Isso é uma ordem, Ema? – Sarah questionou, olhando-me com os olhos semicerrados.
— Apenas pegue o dinheiro. – insisti.
— É uma ordem, Ema? – Sarah provocou, me fazendo bufar. Levantei-me e coloquei o dinheiro no bolso do casaco dela.
— Não tenho a pretensão de te dar ordens. – respondi.
— Ah, não diga isso. Adoraria satisfazer seus desejos. Tenho certeza de que tem fantasias eróticas. Me conte quais são, e as tornaremos realidade.
Ignorei os devaneios de Sarah, peguei minha carteira, retirei o valor do jantar e o deixei sobre a mesa. Afastei-me sem conferir se Sarah me seguia.
Ao dar os primeiros passos pela calçada, pude ouvir distintamente o som dos saltos de Sarah ecoando. Ao olhar para trás, constatei que ela  estava a poucos metros de distância.
— Vamos a pé? Moro, pelo menos, a cinco quarteirões daqui. – ela reclamou.
— Caminhar será benéfico para você. – retruquei, acelerando o passo.
— Ema, meu carro está ali. Podemos ir nele. – insistiu, elevando ainda mais a voz.
— Bebemos, nenhuma de nós deveria dirigir. – argumentei.
— Ah, verdade. Estou saindo com uma policial. Óbvio que não quer infringir a lei. Você é tão certinha, Ema. – provocou Sarah, fazendo-me parar abruptamente. Respirei fundo e enfiei as mãos nos bolsos do meu casaco, revivendo lembranças de algo semelhante alguns meses atrás.

Quatro meses antes...

Ao adentrar o apartamento de Layla após o cair da noite. Fechei a porta suavemente e me encaminhei pelo corredor. Os tons pastéis decoravam a sala, contrastando com a mobília preta. Segui até o quarto principal, presumindo que Layla estivesse lá. Ao abrir a porta, deparei-me com uma mala azul sobre a cama de casal, e o som da água do chuveiro confirmou a presença de minha namorada.
— Layla, você vai viajar? – questionei rapidamente, me aproximando do banheiro. Abri a porta e deparei-me com o box embaçado. — Layla, o que aconteceu? Algum problema com seus pais?
— Ema?! – Layla desligou o chuveiro, envolvendo-se em uma toalha ao sair do box. — Você não ia trabalhar até amanhã?
— Troquei de turno com o Félix. Ele vai acompanhar a esposa ao médico amanhã, então ficará no meu lugar hoje. – comecei a desabotoar minha camisa. — Esperava que ficasse feliz ao me ver, mas parece assustada.
— Você me pegou de surpresa. – Layla aproximou-se descalça. — Precisamos conversar sobre algo.
— Agora? Não podemos fazer algo mais agradável? – abracei-a e beijei seu pescoço, mas Layla me afastou.
— Eu quero dar um tempo, Ema.
— Está terminando comigo? – indaguei, confusa.
— As coisas entre nós esfriaram. Você passa muito tempo no trabalho, e... Bem, você não tem ambição. Pretende passar o resto da vida aqui?
— Espera... – respirei fundo. — Você ia fugir da cidade? É isso mesmo?
— Vou passar um tempo na casa de uma amiga. Estou cansada dessa cidade. – Layla respondeu.
— Não posso acreditar no que está fazendo comigo. – saí do banheiro e sentei-me ao lado da mala de Layla. — Por quê? Eu não sou suficiente para você? – minha voz carregava tristeza.
— Ema. – Layla aproximou-se. Seus cabelos cobriam os ombros, os fios eram castanhos claros como seus olhos. — Me ouça. Você tinha uma carreira promissora, e agora... Ajuda velhinhas a atravessar a rua e dá sermão em moleques. Isso é ser uma policial de verdade?
— Eu sou uma policial, Layla. Sirvo aqui ou no fim do mundo. Cumpro minha obrigação, entendeu? – me levantei da cama abruptamente.
— Eu sei. Você já dedicou quase 4 anos a essa delegacia. Pretende apodrecer lá? Nunca será promovida. Você sabe disso, mas se contenta. Onde está sua ambição? Quer levar uma vida medíocre? Eu não quero mais, Ema. Estou exausta dessa mesmice.
— O que espera de mim? Quer que eu peça demissão? – questionei, chateada.
— Talvez devesse, quem sabe assim seu superior começaria a valorizar você um pouco. Mas você jamais faria isso. Você é tão certinha, não suporto mais isso, Ema.
— Sabe de uma coisa, Layla? – encarei-a. — Vai se foder. – dirigi-me à porta.
— Ema...
Atravessei o corredor apressadamente.

Atualmente...

— Ema?! Terra chamando, Ema. – Sarah estava à minha frente, agitando-me pelos ombros.
— O que está fazendo? – retirei as mãos dela dos meus ombros.
— Ah, não agradeça. Eu te segurei quando você ficou com o olhar vidrado, igual um morto-vivo. Mas tudo bem, não me agradeça por isso. – Sarah exagerou.
— Nunca mais me chame de certinha. – voltei a andar.
— Tá. – Sarah me acompanhou. — Sabia que se tivéssemos um contrato, e eu fizesse algo que te desagradasse, você poderia me punir?
— Ainda posso te punir, basta você infringir uma lei, e eu te jogo em uma cela. – respondi.
— Faria isso mesmo? – Sarah parou abruptamente. — Tipo, e se eu tirar a roupa aqui? Isso é atentado contra o pudor, né? Você me algema e me faz passar a noite em uma cela fria? – havia um sorriso malicioso no rosto dela.
— Não, vou ignorar. Estou suspensa.
— Ah, verdade, mas e se eu disser que estou escondendo drogas? Deveria me revistar, Srta. Policial. – Sarah provocava.
— Você é completamente maluca. – estalei a língua, continuando a andar.

DOMINADORA POR ACASO (Sáfico)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora