Capítulo XXVI

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— Uma boa notícia. Já est Nicolas se juntou a mim em uma mesa da padaria. Segundo ele, eu estava tendo um colapso nervoso e não deveria ficar sozinha.
— Você vai me vigiar o dia todo? – indaguei, cruzando os braços, com os olhos fixos em Nicolas.
— Até você voltar a ser a velha Ema de sempre.
— Como era a velha Ema?
— Responsável e equilibrada. – disse ele, fazendo-me respirar fundo.
— Sabe por que entrei na academia militar? Eu queria ser uma agente da lei para prender os "caras maus" e proteger os bons. Mas, descobri que os "caras maus" controlam tudo, e eu me tornei apenas uma marionete, fingindo proteger as pessoas enquanto garanto meu salário. – desabafei.
Uma família com pai, mãe e dois filhos entre 7 e 5 anos me observava da mesa ao lado.
— Ignorem ela, teve uma noite difícil. – Nicolas amenizou. E a família voltou a atenção para a própria mesa.
— Primeiro, me mandaram para cá quando meu único erro foi fazer meu trabalho corretamente. E agora, estão me perseguindo de novo. Eu não vou abaixar a cabeça para mais ninguém. – levantei-me da cadeira.
— Ema, que tal tomar um calmante? Eu compro. – Nicolas também se levantou. — Depois você fecha os olhinhos e dorme. Vai acordar revigorada.
— Me deixe, Nicolas. – saí andando.
— Ema, o sanduíche. – Nicolas alertou. A balconista nos olhava, e nossos pedidos estavam sobre a bancada.
— Perdi a fome. Eu vou para casa. – continuei andando. Nicolas ficou para trás, certamente pagando pelo café da manhã.
Avancei pelos quarteirões com pressa, deixando meus passos me guiarem até perceber que estava em frente à casa de Sarah. Respirei fundo e bati na porta. Quando ela se abriu, não era Sarah, mas Mariana. Ela usava um roupão branco sobre uma camisola de seda verde, o cabelo preso em um coque, sugerindo que tinha acabado de acordar.
— Oi. – disse ela.
— Oi. – respondi. — Sarah está?
— Sim, está tomando banho.
— Posso entrar?
— Claro. – Mariana abriu espaço. Adentrei a casa e fui até o sofá, onde me sentei e notei que Mariana me observava.
— O que está fazendo?
— Esperando a Sarah. – respondi. Mariana estalou a língua.
— Não é isso que ela espera de você. – Mariana deu passos na direção do corredor. Me ergui.
— Do que está falando?
— Ela precisa de alguém que a guie. E você está deixando a desejar nesse quesito. – Mariana cessou os passos e me olhou.
— Foda-se o que as pessoas querem de mim! Eu tive uma noite péssima. Então, não me diga como agir. – falei com chateação.
Mariana estreitou os olhos e caminhou calmamente até mim. Pôs as mãos sobre meus ombros e me encarou.
— Controle-se. É um erro muito primário permitir que os sentimentos ruins nos dominem. Precisamos estar sempre no controle e ter clareza em nossas ações. Entendeu? Se continuar com essa impulsividade, será tão ruim para a Sarah quanto a Norman foi.
Sentei-me novamente, subi as mãos para minha nuca, inclinando-me para a frente. Uma angústia fazia meu estômago revirar. Eu sabia que, apesar de duras, as palavras de Mariana estavam certas. Eu precisava me controlar ou acabaria fazendo uma bobagem.
— Eu prendi a Norman. – confessei. Mariana sentou ao meu lado e tocou minhas costas.
— Que ótima notícia.
— Ela vai sair da cadeira. O pai dela já está na delegacia. E eu vou perder o distintivo. O que vou fazer sem emprego? E com a cabeça a prêmio? – olhei para Mariana.
— Sabe há quanto tempo quero dar uma lição na Norman? Desde que pus meus olhos nela. – Mariana esboçou um sorriso. — Vou pegar uma bebida, quero que me conte cada detalhe do que houve.
— Ema. – era a voz de Sarah. Olhei para o corredor e percebi que ela me observava.
— Você ouviu tudo?
— Sim. – Sarah deu passos na minha direção.
— Bom, vou pegar aquela bebida. – Mariana dirigiu-se para o corredor. E Sarah sentou ao meu lado. Seu corpo estava enrolado em uma toalha branca e seu cabelo estava úmido.
— O que a Norman fez? Ela agrediu você?
— Ontem, ela me desacatou. E não tive outra opção senão conduzi-la para a delegacia, mas sabemos onde isso vai dar. Ela vai sair impune como sempre e eu vou perder o emprego. – respondi.
Sarah me abraçou. Senti-a tão perto, o que me fez fechar os olhos e concentrar-me em seu coração batendo junto ao meu.
— Eu não vou deixar ela prejudicar você. – disse Sarah em tom baixo. — Prometo, Ema. – apertou-me em seus braços.
— Talvez, eu precise ir embora.  – acariciei as costas de Sarah. Ela afastou o corpo e me olhou.
— Para onde vamos?
— Você iria comigo? – franzi a testa.
— Com certeza. – ela tocou minha bochecha, fazendo uma leve carícia. — Eu vou para onde você for.
— A bebida. – Mariana retornou para a sala, segurando uma garrafa de uísque e dois copos de vidro.
— Vou voltar para casa. – Sarah virou-se na direção de Mariana. — E Ema vai comigo.
— Já estava com saudade de tê-la no escritório. – Mariana colocou uísque em um dos copos, aproximou-se de mim e ofereceu. — Beba. Precisa de um pouco de álcool circulando pelo seu corpo. – me estendeu o copo.
— Não vou recusar. – recebi.
— Bom, vou deixá-las a sós. Preciso voltar para a Dani. – Mariana serviu uísque no outro copo e ofereceu para Sarah. — Pegue. E faça essa policial esquecer a noite ruim.
— Álcool a essa hora? Não, eu preciso me manter sóbria. Acho que aquele acampamento pode acontecer hoje. Não é Ema?
— Não sei, não tive tempo...
— Precisamos relaxar, não acha? Um pouco de contato com a natureza pode nos fazer bem. – Sarah insistiu.
— E pode ser. Vou resolver isso.
— Ótimo! – Sarah segurou em meu rosto e me deu um selinho demorado. — Eu cuido das barracas e de todo o resto. Só consiga a autorização. – levantou-se do sofá. — Eu vou me vestir. – saiu andando na direção do corredor.
— Ela é impulsiva, por isso, você precisa pôr rédeas nela. – Mariana disse antes de tomar um gole do uísque.
— Não quero mudar nada na Sarah. – respondi.
— Não se trata de mudar. É apenas mostrar para ela quem está no comando. Acredite em mim, ela gosta disso. – disse Mariana. — Se me dá licença, preciso ir foder a minha namorada. – colocou o copo sobre a mesa de centro.
— Ah... – respondi baixo.

Continua...

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