Capítulo CXIV

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Quando os copos de suco de limão foram trazidos por um garçom do modesto restaurante, sugeri um brinde. O aroma delicioso da comida caseira vindo das outras mesas pairava no ar, misturando-se com a conversa animada e os risos ao redor. O lugar estava repleto de uma atmosfera acolhedora, com mesas ocupadas por amigos e famílias desfrutando de boa companhia e boa comida.
— Às melhores amigas que alguém poderia desejar. – falei, erguendo o copo.
Daniele olhou para Mariana, ao seu lado, e brincou:
— Ouviu? Amigas, no plural. Você perdeu a exclusividade.
— Se já compartilhei você, imagina a Sarah. – brincou Mariana, atraindo o olhar do garçom que acabara de nos servir o suco. — Por favor, traga um conhaque. Preciso de algo forte para esquecer que uma maldita cirurgiã plástica fodeu a minha noiva.
O rapaz permaneceu imóvel, segurando a bandeja vazia.
— Meu Deus, Mari. Pode ser um pouquinho menos explícita? – pedi, sentindo-me envergonhada.
— Mariana, desde quando você é ciumenta? – questionou Daniele, tocando o ombro da futura esposa.
— Não se trata de ciúmes, mas autopreservação. Não vou compartilhar você com inimigas. – resmungou Mariana.
O garçom seguiu em frente, parecendo desconcertado.
— Meu amor, você sabe que a única pessoa capaz de me fazer ter orgasmos múltiplos é você. – disse Daniele, beijando a bochecha de Mariana com delicadeza.
— Alguém tem um apontador de chifres? – Mariana cruzou os braços, rechaçando o carinho de Daniele.
— Parece que alguém finalmente vai concordar em fechar o nosso relacionamento. – disse Daniele.
— Eu voto para vocês fecharem o relacionamento de vocês. – sorri para elas. — E você, Ema?
— Não sei, se isso for imposto, não será bom para nenhuma das duas.
— Você tem razão, porque eu sou sua por livre espontânea vontade.
— É sobre isso, Mariana. Eu quero que você só tenha olhos para mim. – disse Daniele.
— Eu posso prometer não ficar com outras pessoas. Porém, não abro mal do voyeurismo. – disse Mariana com convicção.
— Isso seria observar as pessoas em momentos íntimos? – Ema questionou.
— De maneira simplista, sim. Eu observo aquelas pessoas que sentem prazer em ser observadas como a Serena e as esposas dela. – explicou Mariana.
— Quando as apresentou para Ema, estava querendo mostrar a ela que o poliamor é possível? – indaguei.
— Não,  só estava apresentando algumas pessoas do nosso ciclo social. – respondeu Mariana.
— Elas são umas fofas, mas eu não consigo me imaginar compartilhando a Ema com outra pessoa. – comentei.
— Eu prefiro como estamos. – disse Ema.
— A Ema conheceu a primeira switcher do clube. E eu recomendo que Ema veja a Andréia em ação. – Mariana comentou.
— Nada disso, a Ema não é sem vergonha como você. – retruquei.
— Eu sem vergonha? Eu só observo. Nunca toquei nelas. – Mariana se defendeu.
— Não é necessário. Seu olhar é obsceno. – acusei.
Uma garçonete se aproximou com uma bandeja com nossos pedidos.
— Com licença. – disse ela, pondo o primeiro prato sobre a mesa.
— Obrigada. – sorri agradecida.
— Nossa... – disse Ema, surpresa. Ela observava a garçonete como se visse um fantasma.
— Ema?! – a garçonete encarou Ema, com surpresa no olhar. — Quando você saiu daquele fim de mundo?
— Estou aqui há pouco tempo. – Ema respondeu, logo me olhou. — Sarah, essa é a... Layla.
— Aaah! A sua ex-namorada trabalha aqui.
— Meio período, o dinheiro ajuda a pagar a minha faculdade. Nem sei porque estou me explicando. Não nos conhecemos. Você é a...?
— Que falta de educação da minha parte. – estendi a mão para Layla. — Me chamo Sarah, sou namorada da Ema.
— Namorada?!" Layla encarou Ema. — Alguém conseguiu te tirar daquela cidade.
— É. – Ema parecia sem graça.
— Ema, sua danadinha. Tem bom gosto. E é bastante eclética. Agrada gregos e troianos. – Mariana ousou brincar.
— Obrigada pela comida. – Ema retirou o prato dela da bandeja. — Foi bom revê-la. – disse visivelmente desconfortável.
Layla serviu Mariana e Daniele em silêncio, e pediu licença antes de se afastar da mesa. Seus passos foram rápidos em direção a cozinha.
— Você sabia que ela estava trabalhando aqui, Ema? – indaguei.
— Não, não mantivemos o contato quando ela foi embora de Santa Mônica. – disse Ema.
— Que bela coincidência, Ema. É seu dia de sorte... ou seria azar? Encontrar a ex pode causar um climão, principalmente se tratando de encontrar a ex, estando com a atual bem do lado. –comentou Mariana.
— Não vejo problema nisso, a Sarah sabe que não tenho nenhum assunto pendente com a Layla. – disse Ema.
— Eu estou ótima. – falei, apesar do meu desconforto. Não deixaria aquele incidente estragar meu dia.
— Vamos comer? O cheiro da comida está ótimo. – disse Daniele, tentando mudar o rumo da conversa.

CONTINUA...

E aí, pessoal? Vocês acham que encontrar o/a ex da sua namorada/namorado cria um clima estranho? Ou vocês lidam bem com isso?

DOMINADORA POR ACASO (Sáfico)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora