Capítulo XVII

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— Então, vocês se conheceram no trabalho? – Sarah questionou, observando alternadamente Nicolas e eu, enquanto segurava um garfo com brócolis.
— Sim.
— Ela chegou na delegacia toda tristonha. E quando descobriu que iria ser minha parceira se alegrou. – contou Nicolas entre mastigadas, repetindo o jantar.
— Não me lembro dessa mudança de humor repentina. – retruquei.
— Não negue, Ema. Eu sou o melhor parceiro que você poderia ter. – insistiu Nicolas.
— Dentre as opções que haviam, sim. – concordei, fazendo Nicolas franzir a testa.
— Isso foi um elogio?
— Sim, eu gosto de trabalhar com você. Satisfeito? – respondi.
— Ah, que fofa. – Sarah sorriu para mim.
— Fazia um bom tempo que a Ema não saía com ninguém. E olha que ela é bem disputada, deve ser um bom partido entre as lésbicas. A moça da padaria dá rosquinha grátis pra ela. E daria outra coisa também se ela quisesse. – Nicolas comentou.
Respirei fundo, agitando a cabeça negativamente. Ele mal havia bebido uma lata de cerveja e já estava falando bobagens.
— Você ganha rosquinha grátis? – Sarah me olhou.
— É... Às vezes. – respondi.
— Qual padaria? Será que consigo uma rosquinha grátis também?
— Ih, difícil. Vai precisar da farda da Ema emprestada. O distintivo abre muitas coisas por aqui. – disse Nicolas entre risos.
— Estou percebendo isso. – Sarah permanecia me olhando. — Já usou a farda para impressionar alguém?
— Não. – respondi.
— Mas você sabe que isso abre portas... E pernas. – disse Sarah.
— Vou achar que está com ciúmes. – falei.
— Não, no fim desta noite, vai ser entre minhas pernas que sua boca vai estar. – Sarah disse baixo.
— Opa. – Nicolas afastou a cadeira dele para trás. — Já está na minha hora de ir.
— Já? Que pena. Adorei te conhecer. – disse Sarah.
Fiquei quieta, me recuperando do baque do comentário de Sarah sobre mim. Ela era realmente muito direta.
Nicolas me olhou por um instante e voltou a atenção para Sarah.
— Estou com sono, não dá para dormir direito na delegacia sem a Ema. Eu precisei ir desentupir a privada da Sra. Rita e levar o Sr. Leopoldo para casa, ele estava tão bêbado que não se lembrava do próprio nome. As pessoas desta cidade acham que temos mil e uma utilidades. Somos desentupidores de privadas, entregadores de compras, babás, conselheiros de casal, menos policiais. Às vezes sinto falta de perseguir bandidos. – Nicolas suspirou.
— Imagino, mas veja o lado bom nisso. As pessoas se sentem seguras aqui. Você e a Ema fazem um bom trabalho. – disse Sarah.
— É.

***

Dispensamos a pipoca, pois a costela com legumes nos deixou satisfeitas. Após a saída de Nicolas, Sarah e eu cuidamos da louça juntas. Ao concluirmos, dirigimo-nos para o meu quarto. Gentilmente, permiti que Sarah entrasse primeiro. Próxima à janela de vidro, havia uma escrivaninha com um notebook e uma agenda, onde eu realizava minhas anotações. Oposto a ela, estava um guarda-roupa. Quase posicionada ao centro do quarto, estava minha cama com lençóis brancos. Ao lado dela situava-se uma mesa de cabeceira, na qual havia um  abajur. Um tapete marrom cobria parte do piso escuro. As paredes possuíam um tom bege, deixando o ambiente visivelmente mais amplo. Preso ao forro, um ventilador de teto com uma lâmpada central.
— Algum cômodo secreto ou cofre cheio de armas letais? – provocou Sarah, se aproximando.
— Não. Por quê? – comecei a desabotoar minha camisa.
— Sou uma criminosa, sabia? – Sarah sentou na cama com elegância. — Dias atrás, uma policial me levou para a delegacia. Acho que a conhece.
— Conheço. Imagine que ela guarde mágoa de você, afinal, foi suspensa por sua causa – respondi.
— Será? – Sarah sorriu maliciosamente. — Essa policial gostaria de me ver na cela?
— Não. – me aproximei. — Não quero estragar o clima, mas preciso te fazer uma pergunta.
— Faça. – Sarah colocou as mãos no meu cinto e começou a abri-lo.
— Por que mentiu para o delegado? Você sabe que a Norman não estava com uma arma de festim.
Sarah pressionou os lábios, pensativa.
— Ema, a Norman tem influência. Ela pode te prejudicar. Você não pode simplesmente esquecer o que houve?
— Não posso fazer isso. Preciso saber se posso confiar em você para continuarmos nos vendo.
— Ema... – Sarah respirou fundo. — Eu falei a verdade. – ela me encarou. — Mas o delegado me disse para ficar calada para evitar problemas.
— Não... Não, Sarah. – neguei, incrédula. — Pedroso não deveria fazer isso.
— Ele fez, Ema. – Sarah se levantou. — Você mora aqui há mais tempo, não percebe que a família Johnson manda nesta cidade?
— Vou levar isso a público. – olhei para Sarah. — Contaria a verdade sobre o que houve quarto?
— Não, Ema.
— Por quê?
— O revólver é do pai da Norman. Ele não quer que os apoiadores saibam que a filha roubou a arma. – Sarah segurou meu rosto. — Você quer Ferrari as nossas vidas, Ema?
— Não. – olhei para baixo.
— Então, esqueça. – Sarah acariciou meu queixo. — Estamos aqui... A sós... Não consegue pensar em nada melhor para fazer?
— E se a Norman colocar outra pessoa em risco? – voltei a olhá-la.
— Você está obcecada. E espero que saiba o que está fazendo.
— Não estou obcecada.
— Está. – Sarah deu um passo para trás. — Vou para casa. Nos falamos depois. – ela parecia chateada.
— Desculpe, não foi minha intenção estragar o clima. – me aproximei.
— Tudo bem.
— Como posso reparar o estresse que causei? – indaguei com um pequeno sorriso. Apesar das dúvidas, precisava tentar esquecer temporariamente aquele assunto.
— Pode me ajudar no banho? – Sarah apoiou os braços sobre meus ombros. — Preciso de ajuda para esfregar as costas.
— Posso ajudar nisso. – concordei.

DOMINADORA POR ACASO (Sáfico)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora