Capítulo XXVIII

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Distraída, eu caminhava pela calçada quando uma voz conhecida gritou meu nome.
— EMA!
Virei para trás, e Nicolas atravessou a rua correndo. Felizmente, a rua estava tranquila, com apenas pedestres.
— Não vou tomar calmante para dormir. – antecipei.
— Sei que se acalmou. Fui até sua casa. A porta da sala estava destrancada. Entrei, vi as roupas no chão e deduzi que você estava com a Sarah, então fui embora.
— Estamos namorando. – comentei. Um largo sorriso se abriu no rosto de Nicolas.
— Você esqueceu a Layla. Isso é motivo de festa.
— Nunca tive a pretensão de reatar com a Layla. – respondi.
— A Sarah sabe que você prendeu a Norman?
— Sabe.
— Pedroso te ligou? Ele me ligou perguntando por você, e pelo tom de voz, vai arrancar seu coração e comê-lo na sua frente. É bom avisar a Sarah que ela vai ficar viúva prematuramente.
— Quero que o Pedroso se dane. Cansei das ameaças. Não vou permitir que a Norman e o pai dela mandem em mim. – avisei, com ar de chateação.
— Vai mesmo pedir demissão? – Nicolas estava à minha frente.
— Sim.
— Para onde vamos? Quer morar em um motorhome? Podemos aprender a pescar.
— Você realmente quer deixar seu emprego por minha causa?
— Quero. Essa cidade é pequena demais, a maioria das mulheres já são comprometidas.
— Ah, entendi. Seu falso. – voltei a andar.
— Para onde vai? – Nicolas me acompanhou.
— Para a casa do guarda florestal. A Sarah e as amigas querem acampar.
— Posso ir também? Eu nunca acampei. – Nicolas passou à minha frente, fazendo-me parar.
— Não.
— Posso proteger vocês dos perigos da mata. Pode ter animais selvagens lá.
— Tem iguanas, cobras e sapos. Acho que consigo me proteger sozinha. – desviei de Nicolas e voltei a andar.
— Prendeu a filha do prefeito. Sua cabeça deve valer uns 10 mil. Precisa de proteção policial.
— Ainda tenho meu distintivo, acho que ainda sou policial.
— Ema, não me deixe fora disso. Posso convidar alguém para ir comigo. – Nicolas insistiu.
— Tá, você venceu. – bufei.
— Sabia que cederia. – Nicolas enroscou o braço no meu pescoço.
— Vou te ajudar a convencer o guarda. Ele está meio ranzinza depois que alguns garotos fumaram numa trilha e deixaram bitucas no chão. Podiam ter incendiado o parque. Isso seria uma tragédia.
— Nicolas, sua pele não é tão macia quanto a da Sarah. Se afasta. – reclamei.
— Qual hidratante ela usa?
— Pare de conversa fiada. – apressei o passo.
— Ema, é sério, qual hidratante dela? – Nicolas me acompanhou. — Deve ser flores selvagens. – ele riu da própria piada.
— Demorou muito para pensar nisso? – olhei para ele com os olhos semicerrados.
— Não, o humor está no meu sangue. Meu avô foi palhaço.
— Os genes devem ter pulado sua geração. – comentei.
— Assim como os genes da beleza pularam a sua geração, né? Que carinha feia. Parece um guaxinim empantufado. – Nicolas ria.
— Olha... Não quero tocar na ferida, mas qual de nós tem uma namorada? – indaguei cessando meus passos.
— Você, mas ela é meio maluca.
— Quer ficar de fora do acampamento?
— Não. Eu até gosto da Sarah. – Nicolas respondeu.

***

Nicolas adiantou-se e bateu à porta do guarda florestal. Eu, de braços cruzados, observava a cena. Quando a porta se abriu à nossa frente, uma mulher de cabelos castanhos, aparentando cerca de 50 anos, nos encarou com confusão no olhar.
— Oi, o que desejam?
— Bom dia, senhora, meu nome é Nicolas. Talvez já tenha ouvido falar de mim na cidade. Sou da polícia. – ele estendeu a mão.
— Não ouvi. – a mulher olhava para Nicolas com desconfiança.
— Tudo bem, mas...
— O que um policial faz aqui? – ela interrompeu. — Pagamos nossos impostos e nunca roubamos nada.
— Senhora...
— Deveria estar prendendo bandidos e não importunando as pessoas.
Nicolas lançou-me um olhar, buscando ajuda.
— Senhora, sou a Ema. Não viemos prender ninguém. Apenas gostaríamos de falar com seu marido. – fui direta.
— Para quê?
— Ele trabalha como guarda florestal, certo? Preciso da autorização dele para acampar no parque. – expliquei.
— James! – ela chamou alto, virando-se para dentro. — Tem duas pessoas querendo falar com você.

***

Parei abruptamente na calçada, Nicolas estava me seguindo.
— Quando eu disse "vá para casa. Eu compro a barraca", o que você entendeu?
— Você está muito amargurada para alguém que transou há menos de uma hora atrás. – disse ele.
— Você está me seguindo pela cidade. Então, desembuche logo o motivo disso. – pus as mãos na cintura, olhando sisuda para Nicolas.
— Você brigou com a filha do prefeito. Estou preocupado com sua segurança. Pense em mim como seu segurança particular. – disse ele, orgulhoso.
— Eu estou ferrada. – murmurei.
— Vou te acompanhar para onde for. – Nicolas me seguiu. — Quando estivermos longe daqui, você vai poder andar sozinha de novo.
— Pretende dormir na minha barraca?
— Não, mas vou armar minha barraca perto da sua, assim poderei ficar atento a qualquer barulho estranho.
— Nick, você está exagerando. – retruquei. — É melhor você ir atrás da sua companhia.
— Hoje, a moça da padaria me deu o número dela e disse que eu poderia mandar mensagem. – Nicolas disse sorridente. — Vou convidar ela para o acampamento.
— A moça da rosquinha? – estreitei os olhos, pensativa.
— Sim.
— Hm.
— Acho que ela gosta de homem também. – Nicolas disse baixo.
— Que bom.
— Você não se importa, né?
— Claro que não. Nunca tivemos nada. Nem sei o nome dela. – respondi.
— Gabriela. Ela me disse para que eu pudesse por o número dela na agenda do celular.
— Legal, agora podemos ir, meu perseguidor? – indaguei com sarcasmo.
— Protetor. – Nicolas estufou o peito. — Caraca, Ema! Olha para esse bíceps. – exibiu o braço direito. — Que mulher não se sentiria protegida andando comigo?
— Devo mentir?
— Você queria ter tantos músculos como eu, não queria?
— Já que está tão preocupado com minha segurança, então me acompanhe até em casa. E depois vá até o supermercado e compre algumas comidas enlatadas ou fáceis de fazer. Pode ser? – sugeri.
— Não temos que comprar barracas? – Nicolas coçou a cabeça.
— Sim, mas vou pedir para as amigas da Sarah fazerem isso sem mim. Afinal, o prefeito quer minha cabeça. Ficarei mais segura em casa. – respondi.
— Boa ideia, Ema.
Nicolas me acompanhou até em casa. Aguardei alguns minutos e saí em direção à rua. Conferi se ele estava longe o bastante e tomei o rumo oposto. Eu detestava a preocupação excessiva dele e não queria envolvê-lo nos meus problemas, mas ele parecia gostar de se envolver.
Andei alguns quarteirões até a casa de Sarah, bati na porta, e instantes depois, fui atendida por Daniele.
— Oi, Ema. Entra. – ela abriu um largo sorriso.
— Oi, tudo bem? – entrei na sala.
— Sim, e com você?
— Estou bem.
— Está procurando a Sarah? Ela ainda não voltou. – disse Daniele.
— Não, eu vim fazer um convite para você e para a Mariana. – olhei para Daniele.
— Que tipo de convite? – Daniele fechou a porta e se aproximou de mim.
— Vamos acampar. E como a Sarah está ocupada, pensei que talvez nós pudéssemos adiantar as coisas, comprando as barracas de camping. – respondi.
— Claro, podemos ir. – Daniele olhou em direção ao corredor. — Me deixe avisar a Mari. Ela está na cozinha, fazendo um lanche para nós. Venha, podemos comer e depois sair. – deu passos na direita do corredor.
— Tá. – segui-a.

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