Capítulo CXLVIII

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No percurso para minha casa, enquanto a BMW branca, conduzida por um motorista, deslizava suavemente pelas ruas, eu me vi imersa na serenidade do anoitecer, observando as luzes artificiais que passavam rapidamente pela janela. À minha direita, Norman, com as pernas cruzadas e o olhar absorto na tela do celular, interrompeu meus devaneios, trazendo-me de volta à realidade.
— Sarah, verde néon ou amarelo limão? Hm?! Qual a cor deve ter o meu novo carro? – perguntou Norman.
— Néon? Que falta de bom gosto. – respondi, arqueando as sobrancelhas.
— Eu gosto de chamar a atenção. Percebeu? E falta de bom senso tem você, que andou dormindo com a Ema. Francamente, Sarah, tantas mulheres bonitas nesta cidade, e você leva logo a Ema para sua cama?
— Escolha melhor suas palavras, Norman. Você não tem um décimo do caráter da Ema. E para mim, ela é a mulher mais bonita e interessante do universo. – retruquei com firmeza.
— É mesmo, Sarah? Interessante. Ela é tão espetacular, e olha só... – Norman guardou o celular e exibiu a aliança. — No fim, você casou comigo.
— Eu vou anular esse maldito casamento assim que possível. – resmunguei, desviando o olhar para fora.
— Não conte com minha colaboração.
— O que te ofereceram? Diga. Seja sincera comigo se ainda resta um ser humano dentro dessa sua casca. – indaguei, voltando a encará-la
— Uma bela mesada. – Norman sorriu. — Você é bonitinha, Sarah, mas é uma vagabunda. Me trocou por aquela policial de merda. Não é óbvio que guardei ressentimento? Olha pra mim. Só pode estar brincando. Como me trocou por ela?
— Bela mesada? Então, aceitou participar desse plano sujo para comprar a droga de um carro néon? – agarrei o casaco de Norman com firmeza. — Como você consegue me surpreender? Você é pior do que imaginei.
— Calma, Sarah. Não estamos a sós. Espere chegarmos em nossa casa para tirar minha roupa. – Norman debochou.
— Minha casa. Você é apenas uma hóspede indesejada. – soltei sua roupa com desdém.

***

Ao chegar em casa, um jardim exuberante recebia os convidados, adornado com arranjos florais delicados e luzes cintilantes, criando um ambiente de encanto e elegância. No entanto, minha mente estava em outro lugar, e eu me recusei a participar da celebração. Em vez disso, subi para o quarto, onde Mariana e Daniele prontamente se reuniram comigo, oferecendo um refúgio reconfortante longe das festividades lá embaixo.
— Como isso vai funcionar, Sarah? Faz menos de duas horas que você casou, e sinceramente, estou com receio de ligar a TV amanhã de manhã e descobrir que você foi presa por matar a sua esposa. – Mariana comentou, observando-me com preocupação.
Rasguei meu vestido diante de Mariana e Daniele. Embora não fosse um típico vestido de noiva, com renda e grinalda, fora comprado pelo meu pai e me lembrava de todo mal que ele estava fazendo à Ema.
— O que é isso? Vai mostrar os peitos pra minha noiva agora? – Mariana colocou as mãos na cintura. — Feche os olhos, Dani, não deixe esse depravada te corromper.
— É a Sarah, o que tem de mal nisso? Ela é uma irmã para mim. – disse Daniele.
— Qual é o seu plano, Sarah? Saltar da varanda direto na piscina? Correr nua pelas redondezas? – Mariana cruzou os braços, seu olhar intenso estava sobre mim.
— Vou passar a noite com a Ema. – respondi.
— Sarah, você sabe que a Ema não tem ideia de que você vive plantada naquele hospital? – Mariana aproximou-se. — Você está remarcando seus clientes, e há dias não pisa no seu escritório. Estou preocupada com você. Você está até mais magra. Tem comido direito? Acha que a Ema vai ficar feliz em te ver mal?
— Pouco importa, Mari. Eu só vou me preocupar comigo mesma quando a Ema acordar. Ela está desse jeito por minha causa. – retruquei.
— Sarah, como vai resolver essa situação? Você casou, percebeu isso?
— Eu sei, mas não vou desistir da Ema. Vou explicar o que me motivou a fazer isso e esperar que o sentimento dela por mim permaneça o mesmo.
— Boa sorte, Sarah. – Mariana desejou enquanto eu adentrava o closet, inevitavelmente recordando do sangue de Ema.
— Estou vivendo dias tão ruins. Tudo que desejo é ter a Ema de volta. – comentei.
— Do jeito que aquela policial é determinada, vai se recuperar logo só para se vingar do seu pai. – disse Mariana, apoiando-se na entrada do closet.
— Sarah, eu ainda me recuso a acreditar que o Sr. Júlio foi tão cruel. – disse Daniele, juntando-se a Mariana.
— Acredite, ele é desumano. – vesti uma calça, em seguida, andei até as prateleiras de sapatos. — Eu espero aguentar os próximos meses. A Norman é tão irritante. Eu havia me esquecido como era estressante estar com ela. – escolhi um par de sandálias vermelhas.
— Eu pus meus olhos naquela garota e soube que ela não te faria bem. – Mariana comentou. — Espero que ela não volte a frequentar o clube. Aquele não é um lugar para ela. Essa farsante nunca será uma dominadora. É só uma pirralha mimada brincando de dar ordens.
— Eu não vou com ela, isso eu garanto. – vesti uma blusa justa no corpo e adicionei um casaco preto. — Me dão carona?
— Claro que sim. – disse Daniele.

***

Eu estava cochilando na poltrona do quarto de Ema quando sua voz suave me arrancou da sonolência.
— Estou viva? – indagou ela.
Instantaneamente, levantei-me da poltrona e corri até Ema, abraçando-a com força enquanto as lágrimas inundavam meu rosto.
— Ema, você quase me matou de susto. – afastei-me, batendo suavemente em seu ombro, momentaneamente esquecendo-me de seus machucados.
— Aai... Você vai me desmontar assim. – Ema sorriu fraco.
***
Após o susto inicial, uma felicidade imensa tomou conta de mim. Liguei para Nicolas e, em seguida, para a mãe de Ema. A situação delicada de Ema havia nos aproximado. Em menos de uma hora, o quarto estava tomado de alegria. Nicolas trouxera dois balões amarelos com a frase “Bem-vinda de volta” e o pai de Ema havia trazido um buquê de flores brancas. O clima estava tão leve e ameno que consegui esquecer, por um momento, do caos que estava minha vida.
— O que fará quando sair daqui, Ema? – indagou Nicolas, ao lado da cama.
— Beber. – respondeu Ema.
— Espero que esteja se referindo a água, mocinha. Nada de álcool. Você vai tomar alguns remédios por algum tempo. – disse a mãe de Ema. — Você me pregou um susto tão grande que, se meu coração não fosse forte, eu teria enfartado. A pressão do seu pai oscilou, mas agora ele está forte como um touro.
— Ema, preciso saber o que houve com você. Por que alguém a sequestraria? Sua mãe e eu somos apenas professores, não conseguiríamos levantar um valor alto para a recompensa. Além disso, ninguém nos ligou. – indagou o pai de Ema.
— Eu posso responder por ela, afinal, Ema ainda está confusa. – me antecipei.
— Eu prefiro deixar isso no passado. Estou aqui e bem, apesar dos machucados. Eu vou me recuperar. E os criminosos pagarão pelos crimes que cometeram. – disse Ema.

DOMINADORA POR ACASO (Sáfico)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora