Capítulo III

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— Eu quero ver a minha mestra. Onde ela está?
— Quando entrei, você estava sozinha. – respondi.
— Ela me deixou? – o olhar da estranha parecia perdido. — Não... Ela nunca me abandonaria aqui.
— O gerente ouviu alguns disparos. Quem disparou foi a mulher que estava com você? – questionei.
— Sim, ela estava se divertindo. Qual o problema nisso?
— Você veio até aqui com uma mulher que suponho ser sua namorada. Ela tinha um revólver e atirou algumas vezes por puro divertimento? – cruzei os braços, intrigada.
— Ela não é minha namorada. É minha mestra.
— Você ingeriu álcool? Ou algum entorpecente? – indaguei.
— Não! Claro que não! Estou perfeitamente sóbria. – a jovem respondeu com irritação.
— Por que diabos a sua... Mestra, sei lá, o que ela seja para você, achou uma boa ideia entrar armada em um motel?
— Eu já te respondi, mas parece que você não está disposta a me compreender.
Ela tinha razão, a situação era tão absurda que eu não conseguia compreendê-la.
— Certo, você disse que ela é sua mestra, mas qual a razão de chama-la assim? – questionei tentando ignorar meu ceticismo.
— Temos um contrato.
— Pode ser mais específica? Contrato de quê?
— BDSM. Eu sou a submissa dela. Estávamos em uma cena, mas... – ela olhou ao redor, parecia buscar algo ou alguém. Seus olhos se voltaram para o teto, e sua expressão de surpresa fez com que eu olhasse na mesma direção. Havia pequenas perfurações no forro, compatíveis com tiros.
— Sua acompanhante disparou no teto? – abaixei o olhar. — Isso é uma diversão perigosa, não acha?
— Eu consenti.
— Isso não é um jogo, ok? Alguém entrou em um motel portando uma arma de fogo e fez disparos. Se não foi você que fez isso, então me diga quem foi. Se não colaborar, vai se complicar, entendeu? – perguntei com impaciência.
— Mesmo que eu quisesse te ajudar a encontrá-la, eu não poderia. Não sei qual é o nome verdadeiro dela e nunca vi o rosto. Não tenho autorização para vê-la. Só ouço a voz e faço o que ela me manda fazer.
— Eu vou investigar, e se descobrir que você está mentindo, vou te prender. – ameacei.
A jovem ergueu os pulsos, esticando as correntes.
— Já estou presa. Pode me soltar? Ou prefere observar enquanto tento me libertar sozinha? – questionou com um ar petulante.
— Merda... Minha madrugada vai ser longa. – murmurei com revolta.
— Não é confortável ficar seminua na frente de uma estranha. – a jovem disse, observando-me.
— Há pouco tempo, você estava com uma mulher cujo rosto e nome desconhece. Ela atirou no teto, que está sobre sua cabeça. Imaginei que você não se sentiria desconfortável ao permanecer com trajes mínimos diante de uma mulher armada, já que estou expondo meu rosto e, caso não tenha ouvido antes, me chamo Ema.  – falei, agachando-me perto da cama.
Os olhos da jovem se estreitaram em desaprovação ao que eu havia dito. Quase podia ouvi-la me xingando mentalmente.
— Acabe logo com isso. Eu quero voltar para a minha casa. – ela disse, desviando o olhar para o outro lado.
— Moro nesta cidade há 4 anos e nunca a vi antes. Nasceu aqui? Ou mudou-se recentemente? – indaguei, abrindo a pulseira de couro que envolvia o pulso esquerdo da estranha. Ela voltou a me olhar.
— Me mudei para cá há duas semanas.
— Qual o motivo? – liberei a jovem da primeira amarra presa à corrente.
— Minha mestra pediu.
— Hm. – conferi seu rosto. — Isso é interessante. A tal mestra tem ligação com esta cidade. O que mais pode me dizer sobre ela?
— O que vai fazer com ela se a pegar?
— Não é óbvio? Vou prendê-la. – respondi.
— Não vou dizer mais nada. – ela rolou os olhos com desdém.
— Acho que você vai trocar as correntes por algemas. – me ergui e dei passos em direção à saída do quarto.
— Eeei! Não pode me deixar assim! – a jovem berrou.
— Agora você tem uma mão livre, pode se virar sozinha. Irei aguardá-la do lado de fora do quarto. Se vista e saia, se tentar fugir, vai passar de testemunha a cúmplice da sua mestra. – falei, dando ênfase na última palavra.
Ao chegar fora da garagem, deparei-me com Frederico e o porteiro, manifestando inquietude e interrompendo sua conversa ao me avistarem.
— Encontrou a atiradora? – indagou-me o gerente.
— Não, ela escapou do local. – dirigi meu olhar ao porteiro. — Descreva-a, você a viu entrando no motel.
O porteiro e o gerente trocaram olhares.
— Ema, certo? – Frederico aproximou-se. — Diógenes não viu claramente o rosto da cliente, duvido que consiga descrevê-la.
— O que mudou? – voltei-me ao porteiro. — Frederico afirmou que você viu as ocupantes do quarto 9. Eram duas mulheres, certo? Esclareça, viu o rosto delas ou não?
— Não vi claramente. A motorista abriu apenas metade do vidro, e o carro tinha película escura. Concluí que era uma mulher pela voz. Ela usava boné preto e óculos escuros. Não consigo identificá-la.
— Não acha isso estranho? – indaguei.
— Não, pensei que ela fosse casada e quisesse passar despercebida. – Diógenes respondeu. — Não costumo interrogar os clientes.
— Ele já disse tudo que sabe. – Frederico interferiu.
— Eu decido, senhor. – encarei o gerente. — Não quer descobrir quem disparou os tiros no quarto? E se isso se repetir? Não seria prejudicial para os negócios? O dono do motel concordaria comigo.
— O dono do Oásis mora fora do estado. E eu não quero incomodá-lo com esse assunto. Podemos considerar um incidente isolado, certo? – Frederico adotou um tom diferente do desespero na ligação.
— Não entendo sua postura. Não quer descobrir quem é o responsável pelos disparos? – questionei.
— Não é necessário. Deve ter assuntos mais importantes. Não se preocupe com essa bobagem. – Frederico respondeu.
— Veremos o que o delegado acha dessa "bobagem". – ironizei.

DOMINADORA POR ACASO (Sáfico)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora