Capítulo XCVII

450 61 12
                                    

Nicolas conduziu o carro até a casa dos meus pais enquanto eu o orientava pelo trajeto. A estrada nos conduziu à familiar residência, localizada em um bairro tradicional da cidade, onde passei minha infância e vivi momentos memoráveis. Ao estacionarmos diante das paredes amarelas da casa, fui tomado por uma onda de lembranças ao contemplar sua fachada. O jardim, decorado com roseiras em flor, exalava um aroma nostálgico, enquanto a grama, cuidadosamente cortada, refletia o constante zelo do meu pai, que fazia questão de mantê-la impecável cortando-a frequentemente. Ao me desvencilhar do cinto de segurança, uma mistura de sentimentos me invadiu, e convidei Nicolas a me acompanhar. Ele prontamente trancou as portas e seguiu-me até a entrada da casa. Parados diante da porta da sala, minha atenção foi brevemente desviada para a porta da garagem, onde visualizei meu antigo carro, que certamente estava coberto de poeira e clamando por reparos.


Bati duas vezes na porta da sala, cheia de expectativa enquanto aguardava ansiosamente o reencontro com meus pais. Quando finalmente a porta se abriu, uma mistura de alegria e remorso se apoderou de mim. Minha mãe, usando seus óculos de descanso, surgiu à minha frente com uma expressão de surpresa. Seus braços se estenderam naturalmente, e ao sentir o calor do seu abraço, uma sensação reconfortante me envolveu instantaneamente.


- Ema. - sua voz saiu doce e repleta de amor.


- Eu mesma. - respondi baixo.


- Minha filha. - ela beijou minha testa. - Como senti saudade de você.


- Eu também.


- Quando chegou?


- Há alguns dias.


Senti o abraço de minha mãe se afrouxar. Seis olhos me encararam com julgamento.


- Alguns dias? E só veio até aqui hoje? - ela retirou os óculos e pendurou-os na gola da blusa. - Ema, faz 4 anos que você foi embora. Não veio me ver nem mesmo no Natal. E agora surge do nada com... - ela olhou para Nicolas. - um rapaz. O que isso significa? Por acaso vai se casar?


- Não, mãe. - respondi imediatamente. - Jamais casaria com um homem.


- Oi, mãe da Ema. Eu sou o Nick. - Nicolas estendeu a mão para a minha mãe. - Somos amigos, meio irmãos. Nunca tivemos um caso, seria como um incesto.


- Eu e Nick trabalhávamos na mesma delegacia. Ele era meu parceiro. Desenvolvemos uma amizade e...


- Ema, o que te trouxe até aqui? Com certeza não fui eu, nem seu pai. - minha mãe cruzou os braços.


- Fala aí, Ema. Conta pra sua mãe que você está morando com a Sarah. - disse Nicolas, antecipando o assunto.


- Sarah? Que Sarah? - minha mãe semicerrou os olhos. - Você não estava com uma tal de Layla?


- Layla me deixou, aparentemente. Ela achou que eu não era boa o suficiente para ela, mas não se preocupe. Estou bem. - respondi. - A Sarah é a minha atual namorada.


- A fila andou rápido. - Nicolas comentou. - Sua filha fazia todas as lésbicas de Santa Mônica suspirarem.


- Nick... Eu não fazia ninguém suspirar. - falei um pouco envergonhada.


- Claro que fazia. - ele apoiou um dos braços sobre meus ombros. - Agora ela tá pegando a filha do secretário de segurança. Nada mal, né?


- Júlio Vélaz? - minha mãe franziu a testa. - Não foi esse homem que te acusou de causar a morte daquele garoto? Como era mesmo o nome dele?


- Alexandre Vélaz. - respondi. - Ele era sobrinho do secretário de segurança. E sim, foi o Sr. Vélaz que me enviou para Santa Mônica.


- Entra. Precisa me explicar direito o que está acontecendo. - minha mãe avançou em direção ao sofá. Eu e Nicolas nos entreolhamos.


- Deixa que eu explico. - falei baixo.


- Melhor eu te esperar no carro.


- Não, entra. - insisti.

Continua...

Não deixem de curtir e comentar 🥺🙏

DOMINADORA POR ACASO (Sáfico)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora