Capítulo LXXII

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Ema assumiu o volante do meu carro, eu  apreciava vê-la no controle. Observava-a com atenção, como franzia a testa e soltava um suspiro leve diante das situações desafiadoras no trânsito. Era uma cena inusitada ver uma guerreira medieval conduzindo um veículo moderno do século XXI. Esse pensamento me fez rir, enquanto Ema me olhava com uma expressão confusa.
— Você está adorável vestida assim.
— Imagina se formos paradas numa blitz? Seríamos a sensação das redes sociais. – Ema comentou.
— Sorte que você está ao lado de alguém com uma taxa de sucesso de noventa e cinco por cento nos processos em que atuou. – disse, esboçando um sorriso.
— Sempre quis ser advogada? – Ema perguntou, voltando a atenção para a rua.
— Hm... Talvez. Era minha primeira opção. Cresci vendo meus pais envolvidos no mundo dos negócios, sabe? Minha mãe trabalhou como contadora por muito tempo, eu a via constantemente no escritório de nossa casa, fazendo ligações e analisando pastas. Eu queria ser como ela. Meu pai, por outro lado, sempre esteve nos bastidores da política, pulando de um cargo para outro. Não o via muito em casa, e nossa relação não é das melhores. Às vezes me sinto um pouco negligenciada por ele, entende? Sou apenas uma foto em sua mesa. Não sou alguém com quem ele tenha compartilhado momentos simples, como andar de bicicleta ou tomar sorvete na praça.
— Sinto muito.
— Tudo bem. E como é sua relação com seus pais? – perguntei.
— Acho que é boa. Sem traumas. São professores. Se conheceram no trabalho, se apaixonaram, casaram e decidiram ter um bebê. Não tinham recursos para ter muitos filhos, então optaram por ter apenas um para poder dar uma boa educação. Tinham esperança de que eu me tornasse médica, mas escolhi ser policial. O resto você já sabe. Me afastei deles quando me mudei de cidade.
— Por quê, Ema? – toquei sua coxa direita.
— Não sei... Vergonha, talvez? Recebi uma boa educação, Sarah. Meus pais se sacrificaram muito, trabalhando duro para me proporcionar uma boa escola, um plano de saúde e economias para o meu futuro. Entrei para a polícia esperando que eles se orgulhassem de mim... Mas, depois do que aconteceu com seu primo, senti-me envergonhada. Não conseguia encará-los nos olhos e admitir que falhei, parecia que eu havia jogado todo o esforço deles no lixo.
— Amor, tenho certeza de que seus pais não pensam assim. Deveria explicar a eles o motivo do seu afastamento. Se são boas pessoas, vão entender. – aconselhei.
— Vou procurá-los, está bem? Só me dê mais alguns dias. – pediu Ema.
— Você tem todo o tempo que precisar. – respondi.
Chegamos à casa de Mariana e fomos recebidos por Daniele. Ela usava um vestido amarelo longo, com mangas largas e um corpete elegantemente ajustado ao corpo. O tecido de linho exibia delicados babados, conferindo-lhe um toque de rusticidade encantadora. A saia ampla, parcialmente encoberta por um avental simples, proporcionava uma aura de simplicidade campestre. Seus cabelos estavam habilmente trançados para trás, enquanto sua maquiagem era suave, realçando sua beleza natural.
— Dani, amei o vestido. – elogiei ao sair do carro.
— Obrigada! Você está deslumbrante, Sarah. – Daniele retribuiu o elogio, abraçando-me. — Que bom que chegaram. Agora só falta a Lina.
— Como assim? A Lina vem? Mas...
— Não foi minha ideia, foi da Mari. – Daniele disse ao meu ouvido.
— Vou esganar sua namorada. – avisei em tom de brincadeira, enquanto a abraçava.
Adentramos na sala de Mariana, onde ela repousava elegantemente no sofá, segurando uma taça de champanhe. Sua postura impecável era ainda mais ressaltada pelo esplendor de seu vestido longo, confeccionado em seda, com mangas compridas e ajustadas. O corpete, habilmente ornamentado com bordados intricados e pedrarias cintilantes, conferia-lhe um ar de nobreza inigualável. A saia, majestosamente ampla e volumosa, ostentava várias camadas de tecido. Complementando sua indumentária, uma tiara dourada adornava seus cabelos, enquanto um colar de pedras vermelhas realçava ainda mais sua beleza.
— Olá, vossa majestade. – brinquei ao vê-la.
— Olá... – Mariana depositou a taça sobre a mesa e se levantou. — Vieram a caráter. Vão participar da cena, não é?
— Não, viemos apenas para observar. – respondi antes de me aproximar e abraçá-la. — Eu deveria te esganar, por que convidou a Lina?
— Não estava pensando em você quando a convidei. Estava pensando na minha satisfação. – Mariana respondeu, fazendo-me revirar os olhos.
— Você sempre pensa em você primeiro, não é? Agora, terei que abordar um assunto que achei que poderia ser adiado. – afastei-me e olhei na direção de Ema. Eu teria que contar a ela que Lina e eu já havíamos ficado juntas, mesmo que sem interesse romântico.
— Oi, Mari. – Ema se aproximou de Mariana e estendeu a mão direita. — Tudo bem?
— Melhor agora. – Mariana cumprimentou Ema com um aperto de mão. — Não é todo dia que recebo uma guerreira na minha sala. – brincou. Ema sorriu.
— Ideia da Sarah. É uma vestimenta bonita, mas nada funcional.
— Pode tirá-la quando quiser. – sugeriu Mariana.
— Não, estou bem. – Ema respondeu.
— Querem beber algo? – Daniele perguntou.
— Água. – disse Ema.
— Não ficará só na água. Precisa aguçar seus instintos com um bom vinho envelhecido. Vou te apresentar a minha adega, Ema. – Mariana tocou suavemente as costas de Ema. — Como é convidada, vou deixar que escolha o vinho do jantar. Me acompanha? Deixa essas camponesas fofocarem, enquanto nós desfrutamos de alguns vinhos.
— Você realmente quer corromper minha namorada. – resmunguei.

DOMINADORA POR ACASO (Sáfico)Where stories live. Discover now