Capítulo XVIII

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Quando os primeiros raios de sol iluminaram o quarto, estendi-me, espreguiçando os braços e bocejando. Sarah ainda descansava ao meu lado, de bruços e com as costas descobertas. Virei-me na sua direção, acariciando suavemente sua pele macia.
— Sarah? — chamei em tom baixo, mas ela permaneceu em silêncio. Sentei-me na cama, retirando o lençol e vestindo minha camisa, deixando alguns botões desabotoados. Nossas roupas estavam espalhadas pelo chão, testemunhas da noite anterior. O lençol agora guardava os aromas entrelaçados. Lembranças da noite passada ecoavam em minha mente. Meus lábios haviam percorrido o corpo de Sarah, levando-a ao êxtase ao encontrar sua intimidade. Suspirei, ciente da inevitabilidade do desejo que nutria por ela.
Fui ao banheiro, tomei banho e escovei os dentes. Ao sair, com a toalha envolta, encontrei Sarah se vestindo apressadamente.
— Oi. – ela sorriu. — Você deveria ter me acordado.
— Ainda é cedo. – respondi.
— Preciso passar em casa para me trocar. Tenho que ir para o trabalho. – ela se aproximou e me deu um selinho. — Pode me dar seu número?
— Claro, mas fique um pouco. Vou preparar o café.
— Não vou incomodar?
— Nem um pouco. A Dona Ana me deu um queijo. Você precisa experimentar. É ótimo. – comentei.
— Dona Ana? Quem é essa? Outra mulher com quem devo me preocupar? – Sarah arqueou uma sobrancelha.
— É uma senhora de mais de 80 anos. – respondi, sorrindo.
— Parece que você agrada dos 18 aos 80, né? – Sarah murmurou, me fazendo rir.
— Não mesmo. Ajudei Dona Ana com as sacolas de compras e tomamos chá. Ela é um pouco solitária.
— Vai comprar pão? A mocinha da padaria deve estar ansiosa para te ver. – disse Sarah, me observando.
— Não, tenho pão de forma. – respondi. — Mas confesso que a rosquinha dela é boa. – brinquei. Sarah revirou os olhos.
— É melhor começar a pagar por ela, ok? Não deixe a garota criar falsas esperanças.
— Isso parece ciúmes. – comentei.
— Talvez. Não quero essa boquinha... – passou o dedo indicador em meus lábios. — No meio das pernas de mais ninguém.
— Acho que o Nick te fez ter uma visão deturpada sobre mim. Minha vida amorosa não é agitada. A maioria das mulheres da cidade é heterossexual, e as bissexuais e lésbicas, ou são comprometidas ou não me veem como boa opção.
— Por quê?
— Às vezes, Layla passa pela cidade. As pessoas acham que nos encontramos às escondidas. – respondi.
— E?
— Não, não tivemos recaídas. Layla estava decidida quando me deixou. E, depois, me acostumei com a ausência dela na minha vida.

***

Bati à porta da casa de Nicolas, ele morava a poucos quarteirões da minha casa. Quando ele abriu, estava usando um short quadriculado, seu cabelo estava bagunçado e o rosto marcado pelo travesseiro.
— O que houve? – sua voz estava sonolenta.
— Preciso de um conselho.
— Hm?! – Nicolas estreitou os olhos.
— Posso entrar?
— Entra. – Nicolas abriu caminho. Adentrei na sala, percebendo o aroma de fritura no ar. Ao me dirigir ao sofá, percebi as almofadas desarrumadas. — Este lugar parece a toca de um rato. – acomodei-me no sofá, removendo uma almofada antes de sentar. Nicolas aproximou-se, bocejando.
— Quer limpar pra mim? Posso pagar com minha gratidão.
— Vai sonhando. – joguei a almofada na direção do quadril dele.
— Cuidado, vai machucar o garotão. – ele disse levando as mãos para a frente da pélvis.
— Poderia ficar um pouco mais decente? Talvez não tenha percebido, mas eu sou uma mulher.
— É? Que estranho, achei que você era um cara. – ele sentou ao meu lado e apoiou o braço sobre meus ombros. — Se bem que um cara não usaria perfume com cheiro de fruta. Tá cheirosa, Ema. Você tá tentando impressionar alguém?
— Cheiro de fruta? Eu só passei protetor solar. Você está alucinando. – retirei o braço dele de cima dos meus ombros.
— Tá mal humorada? Não passou a noite se divertindo? Com certeza a Sarah dormiu na sua casa.
— Isso não vem ao caso.
— Vocês estão namorando? – havia um sorriso pretensioso no rosto de Nicolas.
— Não. – respondi.
— Mas você quer?
— Nick, eu estou aqui por outro motivo. Você é meu amigo. E bem, você tem uma higiene questionável, mas é um cara confiável.
— Por que sempre me esculacha antes de me elogiar? – Nicolas me olhava.
— Por hábito.
— Por que veio aqui, Ema? O assunto é sério?
— Sim. – respirei fundo. — Eu não queria te envolver nisso, mas preciso de um conselho.
— Conselho para quê?
— O que faria se descobrisse que o Pedroso está protegendo a filha do prefeito? – encarei Nicolas.
— Isso é ruim.
— O que faria?
— Nada. O que eu poderia fazer?
— Foi o que imaginei que me diria. – suspirei. — Não sei se consigo ignorar isso, Nicolas.
— Ema, já viu uma sardinha comer um tubarão? Não se mete em confusão, você arranjou uma namoradinha. Curte isso. Esquece o resto. – ele aconselhou.
— Tenho receio que a Norman se encoraje e coloque a vida de alguém em risco.
— A única vida que vai estar em risco é a sua se continuar mexendo com ela. Todo mundo sabe que a filha do prefeito é problemática. Uma hora o prefeito manda ela para fora da cidade e ela vira problema de outra jurisdição. – Nicolas tocou meu ombro antes de se levantar. — Já tomou café?
— Sim.
— Quer ter a honra de passar café para mim?
— Isso já funcionou com alguém? – semicerrei os olhos.
— Não, mas não custa tentar.
— Põe uma roupa decente e vamos correr. Você diz que sente falta da adrenalina, mas infartaria se tivesse que correr atrás de um bandido. – me levantei. — Vamos treinar. Preciso ocupar minha mente.
— Agora? Eu nem acordei direito.
— Agora.

Continua...

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DOMINADORA POR ACASO (Sáfico)Where stories live. Discover now