Capítulo LXV

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A colega de trabalho de Sarah chegou cerca de 20 minutos mais tarde, vestindo um elegante vestido azul que terminava acima dos joelhos, com uma bolsa preta pendurada em seu ombro esquerdo. Seus cabelos castanhos tinham leves ondas, e seus olhos  tinham um tom castanho, contrastando com sua pele clara. Ela se sentou ao lado de Marcus.
— Já pedimos por você. – disse Mariana, observando a mulher que parecia ter menos de 30 anos.
— Obrigada, pessoal.
— Ema, esta é a Elena. Elena, esta é a Ema. – apresentou Sarah.
— Prazer. – estendi a mão sobre a mesa.
— Ah... A famosa policial. – Elena sorriu, cumprimentando-me.
— Famosa? – Indaguei, sorrindo.
— Sim, no escritório. – Elena respondeu. — Sarah fala muito bem de você.
— Que gentileza. – olhei para Sarah.
— Como não falar bem de você? – Sarah aproximou o rosto e me deu um selinho.
— O que seus pais acharam de Sarah? – Elena indagou.
— Eles ainda não a conheceram. – respondi.
— Estou ansiosa para conhecê-los, amor. – disse Sarah.
— Vou providenciar. – respondi. Naquele momento, percebi que não havia avisado aos meus pais sobre meu retorno à cidade, pois estava habituada a viver sozinha.
A conversa fluía naturalmente enquanto Marcus compartilhava um caso recente que defendeu no tribunal.
— Meu cliente estava prestes a passar 25 anos na prisão, mas, sem me gabar, bons advogados sempre têm um truque na manga. Lembrei-me do recibo do posto de gasolina. Como o James percorreria 54 quilômetros em 8 minutos? A menos que ele fosse o Flash. E como poderiam alegar que outra pessoa usou o cartão dele, solicitei o vídeo de uma das câmeras do posto e confirmei que meu cliente abasteceu naquela noite, no horário indicado no recibo. – Marcus ergueu sua taça de vinho. — Um brinde à minha sagacidade.
— Tão modesto. – Mariana revirou os olhos. — Eu defendi uma esposa acusada de homicídio. Ela descobriu que o marido estava tendo um caso com a assistente, que até ganhou um apartamento mobiliado. A amante era apenas dois anos mais velha que a filha mais nova do casal. Sinceramente, não a culpo. E fiz o meu melhor, provei que ela sofria abuso psicológico. Tirei os agravantes e reduzi a pena pela metade. – Mariana ergueu sua taça. — Aprender a perder com classe é para poucos, meu caro Marcus Silva.
— Não ligue, Ema. Mariana e Marcus adoram se provocar. – disse Sarah.
— Me diga, Ema. Já matou alguém? – Marcus fez uma pergunta inesperada.
— Não. – respondi.
— Mas com certeza já atirou em alguém.
— É. – respondi, incomodada com a direção da conversa.
— Existem policiais bem truculentos. Sarah que o diga. O primo dela foi vítima de uma dupla. Torturaram o primo dela por causa de um pouquinho de droga, acredita? Como se não tivessem nada melhor para fazer. Não seria melhor se preocuparem com roubos e homicídios? Era só um garoto fazendo bobagem, podiam ter sido complacentes. – disse Marcos, causando um silêncio desconfortável na mesa.
Levantei-me, sentindo os olhares de todos sobre mim.
— Preciso tomar um ar fresco.
— Eu disse algo errado? – Marcus parecia confuso.
— Quando você está certo? – Mariana resmungou.
— Eu não quero que toquem nesse assunto novamente. – Sarah disse séria. — É algo que diz respeito a mim e à minha família, Marcus. Não é da conta de ninguém.
— Desculpe, achei que era pertinente tocar no assunto. Com certeza a Ema não é esse tipo de policial.
— Na verdade, quatro anos atrás, eu era um tipo pior. Eu via coisas ruins acontecendo e me mantinha calada, para garantir minha promoção. – respondi. — E caso não saiba, eu conheci o Alex. Certamente, era um bom rapaz consumido pelo vício. Lamento que tenha falecido. Espero que quando você for contar sobre o ocorrido, se lembre que quem disparou contra ele foi um traficante com uma conta bancária de sete dígitos. Alguém que poderia contratar qualquer um nesta mesa para defendê-lo. Vocês dariam o melhor de vocês, não dariam? Então, não se achem tão superiores ao policial que se excedeu para tirar um traficante das ruas. Era alguém sobrecarregado, e que a princípio, só queria deixar as ruas seguras. – afastei a cadeira ao terminar de falar.
— Ema. – Sarah me ergueu.
— Eu preciso esfriar a minha cabeça. – avisei, dando passos em direção à saída. Sarah me seguiu. Chegamos à área externa, peguei a chave do carro com o manobrista e entrei no veículo, ocupando o banco do motorista. Sarah sentou ao meu lado.
— Você sabe que eu não te culpo pelo que aconteceu com o Alex. – Sarah disse em tom suave, me olhando.
— Se até seu amigo me julga, imagine o que seu pai pensa de mim. – respirei fundo.
— Ema, você não matou o Alex.
— Eu não matei, mas deixei o Alfredo colocar um alvo no seu primo. Eu podia ter tentado impedir, Sarah. Eu poderia ter falhado, mas ao menos teria tentado. Eu fui fraca. – olhei pela janela. — Talvez, eu não devesse retornar para a polícia. Quem garante que não vou prejudicar outras famílias?
— Ema, você é íntegra, por isso se culpa pelo incidente. – Sarah tocou meu ombro. — Do que precisa para se perdoar?
— Não sei... – olhei para Sarah, eu podia sentir meus olhos marejados. — Eu não sou a mesma desde aquele dia. Eu podia...
— Ema, eu convivi com o Alex. Ele era impulsivo. Infelizmente, se envolveu com as pessoas erradas. Cedo ou tarde acabaria morto. Ele não queria se tratar, sabia? Minha tia tentou interná-lo. Adoraria que ele tivesse aceitado e se restabelecido, mas não aconteceu. Ele se pôs em uma situação de perigo e foi vítima disso. Não foi você que o matou. Ele próprio fez isso quando não aceitou ajuda. – Sarah subiu a mão para minha nuca. — Se perdoa, por favor.
— Não consigo, Sarah. – soltei uma respiração profunda.
— Consegue. – Sarah pegou minha mão direita. — Eu posso ajudar nisso. Me permite, Ema?

Continua...

DOMINADORA POR ACASO (Sáfico)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora