Capítulo CXLIII

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Encontrei meus pais, ao entrar na cozinha  acompanhada por Mariana. Meu pai estava desfrutando de uma fatia de bolo recheado de morango. Enquanto isso, minha mãe, com um avental manchado de farinha, retirava outro bolo fumegante do forno.
— Sarah, você chegou em boa hora. Estou testando recheios de bolos para o evento beneficente desta semana. Gostaria de experimentar alguns? – minha mãe perguntou sorridente.
Avancei em direção ao meu pai.
— Desgraçado! – gritei, agarrando-o pela camisa.  Como ousa enviar seus capangas para invadir minha casa? Lourdes está no hospital e Ema está desaparecida. Se não me disser onde ela está, juro que acabo com você.
— Sarah, que maneiras são essas? – interveio minha mãe.
— Deixe, querida. Sarah me culpa por tudo o que acontece com aquela assassina. – meu pai olhou para mim com calma.
— Onde está a Ema? – insisti, com fervor.
— Como vou saber? Acha que passo meu tempo seguindo-a? – meu pai tirou minhas mãos de sua camisa. — Sente-se à mesa e prove os bolos de sua mãe, ou saia desta casa agora.
— Eu vou acabar com você. Ouviu? – ameacei.
— Bem, Sarah. Se eu soubesse onde a Ema está, diria que me ameaçar não seria a melhor maneira de conseguir minha colaboração. Sente-se e coma uma fatia de bolo. – ele me encarava sério.
— Onde ela está? – continuei perguntando.
— Sente-se agora! – ordenou, me encarando. — Se eu der um telefonema, aquela vagabunda vira comida de peixe. Então, sente-se e coma o bolo.
Olhei para Mariana, que assentiu com a cabeça. Me sentei à mesa, seguida por ela.
— Satisfeito? – perguntei.
— Júlio, o que você fez com a namorada da Sarah? – minha mãe questionou, intrigada.
— Sirva Sarah e a amiga dela, depois saia. Preciso ter uma breve conversa com nossa filha. – disse meu pai.
— Júlio...
— Eu disse para você servir o maldito bolo! – meu pai falou com a voz elevada.
— Pare de gritar com ela. – retruquei, irritada. — Acha que pode intimidar todas as pessoas que o cercam?
Minha mãe serviu uma fatia de bolo em cada prato. Segurei o pulso dela e busquei seu olhar.
— Mãe, você não precisa aguentar isso. Posso te ajudar. – minha mãe fez um leve aceno negativo com a cabeça.
— Obedeça seu pai, Sarah.
— É interessante ver como o senhor trata sua esposa e filha. É um ser tão desprezível que não consegue cativar o amor de ninguém e precisa tê-las em sua vida por meio da intimidação. O que lhe falta? Tem um pênis pequeno ou é impotente? – Mariana indagou com um sorriso sarcástico. — Ah, antes que tente me intimidar, saiba que estou gravando nossa conversa. – ela tirou o celular de dentro do blazer. — Backup automático. Compreende o que significa? As pessoas saberão como trata sua família se não disser para Sarah onde a Ema está.
Meu pai sorriu, olhando para Mariana.
— Uma gravação irregular? É tudo o que tem contra mim? Não é uma advogada como Sarah? Deve saber que isso não será aceito como prova. – disse ele.
— Não vou apresentar essa gravação em frente a um juiz. Vou disponibilizá-la na Internet. Imagine quantas pessoas ouvirão isso. O dano à sua imagem será irreparável. Então, diga a Sarah onde está a Ema, senão, esse áudio vai viralizar em poucos minutos. – Mariana guardou o celular novamente.
— Obrigada. – sorri fraco para Mariana. Meu pai se levantou abruptamente.
— É inacreditável como mulheres como vocês são sorrateiras.
— Dez segundos. Nove... – Mariana começou a contar.
— Fale logo! – berrei.
— Amanhã, Sarah. – meu pai me olhou. — Amanhã, aquela vagabunda aparecerá, mas não tente nada contra mim. Se eu souber que fez algo que me prejudique, Ema morrerá. E você nem encontrará o corpo para enterrá-la. – ele deixou a cozinha.
— Não! Preciso que liberte a Ema hoje. – levantei-me. — Vamos, diga onde ela está! – insisti.
— Sarah, não faça isso. Seu pai não pensa direito quando está irritado. – pediu minha mãe.
— Como vou suportar a ausência de Ema até amanhã? – indaguei a ela.
— Me ouça. Se ele prometeu liberá-la, ele o fará, mas se continuar pressionando, ele agirá por impulso e fará uma besteira. Já o vi agir por impulso, Sarah. A morte do policial foi consequência da pressão que sua tia fez sobre ele. Não faça isso, por favor. Dê a ele o tempo que ele quer.
— Como pode viver ao lado dele, mãe? – questionei. Minha mãe sentou-se à mesa e respirou fundo.
— Os negócios do seu pai estão atrelados ao meu nome, Sarah. Se você o denunciar, ele não será preso, mas eu serei.
— Mãe... – sentei ao lado dela. — Você deixou ele te usar como laranja? Por que fez isso? – indaguei preocupada.
— Por confiar demais nele, Sarah. Eu assinei procurações há muitos anos atrás. Eu achei que estava permitindo que seu pai administrasse as minhas ações, mas na verdade estava permitindo que ele abrisse empresas em meu nome.
— A gente vai resolver isso, mãe. Você foi enganada. – pus a mão em seu ombro.
— Não se envolva nisso, Sarah. Eu sempre tentei mantê-la segura, mas parece que tudo ruiu. E Júlio vai destruir você. Eu falhei como mãe. – minha mãe começou a chorar.
— Di, não fique assim. Você vai sair dessa. Você e a Sarah vão ficar bem. – disse Mariana.
— Obrigada, mas já perdi a fé. – minha mãe disse desanimada.
— Se precisar de ajuda, estou à sua disposição. – respondeu Mariana.
— Mãe, eu posso passar a noite aqui? – pedi.
— Claro, filha.
— Eu vou ficar de olho naquele desgraçado. – comentei.
— Eu preciso ir para casa. A Daniele deve estar preocupada comigo. Eu sumi sem dar explicações.
— Obrigada por ter ficado comigo, Mari.
— Me avise se tiver notícias da Ema.
— Aviso sim. – respondi.
— Obrigada por cuidar da minha filha. Nem sei como te agradecer. – minha mãe disse para Mariana.
— Bom, conheço um bom advogado de divórcios. Me ligue quando receber a certidão de averbação. Daremos um jeito de você me agradecer. – Mariana sorriu maliciosamente.
— Mariana, estou com os nervos à flor da pele. E você está dando em cima da minha mãe?
— É melhor uma amiga como madrasta do que uma desconhecida. – Mariana provocou.
— Vai embora. Vai, sua descarada. – resmunguei.

DOMINADORA POR ACASO (Sáfico)जहाँ कहानियाँ रहती हैं। अभी खोजें