Capítulo CV

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(Sarah narrando)


Ao adentrar a casa dos meus pais, fui calorosamente recebida por uma das funcionárias na sala.
— Srta. Sarah, é um prazer revê-la. –disse ela com um sorriso amistoso no rosto. No suntuoso salão da residência, Elisa movia-se com a leveza de uma sombra, sua presença discreta e elegância inquestionável eram uma constante há anos, desde antes mesmo do meu nascimento. Seus olhos azuis, reluziam como joias preciosas, absorviam cada detalhe com atenção, capturando nuances que passavam despercebidas aos demais. Seus cabelos escuros, meticulosamente arrumados em um coque impecável, refletiam a dedicação e cuidado que ela dispensava à sua aparência.
Por trás do seu sorriso polido, residia uma inteligência aguçada. Ela não era apenas uma funcionária; era uma confidente dos segredos mais profundos que aquelas paredes guardavam. Ela os protegia como um tesouro valioso, utilizando-os como moeda de troca para manter sua posição e garantir um salário condizente com sua importância na casa.
— Imagino que meu pai não esteja em casa. Talvez esteja escondido em uma moita nos arredores da minha casa – falei com chateação.
— Desculpe, não entendi. Por que o Sr. Vélaz estaria escondido em um arbusto? – Elisa parecia confusa.
— Deixe para lá, eu quero falar com minha mãe.
— A Sra. Vélaz está nos fundos da residência, colhendo frutos do pomar.
— É surpreendente como minha mãe consegue ignorar as meras que meu pai faz. – murmurei, dirigindo-me para o corredor.
— Srta. Sarah, me permita acompanhá-la, por favor – Elisa me seguiu com seus saltos quadrados.
Ao percorrer o imenso corredor, mais parecido com um labirinto diante de tantas portas e ramificações, refleti sobre minha infância naquele lugar, acompanhando de perto o espírito ganancioso do meu pai.
Minha mãe estava entre plantas frutíferas, colhendo jaboticabas. Seu vestido era florido e seus cabelos balançavam ao sabor do vento. Um sorriso brotou em seus lábios ao me ver.
— Meu bem. É tão bom te ver.
— Mãe, não estou aqui para uma visita amistosa. O seu marido está espreitando minha casa. E eu juro que se ele tocar em um fio de cabelo da minha namorada, eu vou garantir que a carreira política dele vá para o ralo – ameacei.
Minha mãe mordeu uma jaboticaba.
— Sabe o que acho disso, Sarah? Não é da minha conta.
— Como não é da sua conta? Você é a esposa dele. Faça algo. Será que pode tomar meu partido pelo menos uma vez? – pedi, me aproximando dela.
— Eu sempre estou ao seu lado, filha, mas não posso me meter nos assuntos do Júlio. E aconselho que você faça o mesmo – disse ela.
— Não, eu não idolatro ele como você. Eu sei o tipo de homem que ele é – retruquei. — Nem toda a caridade do mundo vai apagar os erros dele, mãe. Você deveria aconselha-lo a não se intrometer na minha vida, senão...
— Sarah, por que gasta o seu tempo medindo forças com seu pai? Ele te ama e tenta proteger você dos males desse mundo.
— Ele vai me proteger dele mesmo? – indaguei. — A Ema é intocável. Diga isso para ele, certo? Se ele continuar perseguindo ela, garanto que trocará os lençóis de mil fios por uma manta qualquer de uma prisão – ameacei.
— Sarah...
— Não tente defender aquele homem – interrompi. — E faça o que estou dizendo, sabe que posso arruinar o nome dessa família. E farei isso sem medo algum. Eu não ligo pra essa droga de status. Posso ser feliz com uma vida bem mais modesta.
— Sarah, eu direi para o Júlio ficar longe dos seus assuntos, mas por favor, não alimente esse sentimento ruim que sente pelo seu pai. Ele ficará triste.
— Diga para ele ficar longe do meu condomínio – avisei antes de sair andando com pressa. Elisa me aguardava em frente à porta dos fundos.

Continua...

DOMINADORA POR ACASO (Sáfico)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora