Capítulo CLVI

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O carro de Sarah entrou na garagem pouco antes das 10 horas da manhã, e lá estávamos Nicolas e eu. Enquanto eu mostrava minha moto a Nicolas, ele a examinava com interesse.
— Vai me emprestar, né? – Nicolas deslizou a mão sobre o tanque.
— Não. – respondi.
— Ema, não seja malvada. Vou impressionar as mulheres com ela.
— Só pensa em bobagens. – revirei os olhos. Sarah saiu do carro.
— Que bobagem? Só falei em impressionar. – disse Nicolas.
— Esquece, Nick. É mais fácil ela me emprestar. – Sarah comentou fechando a porta do carro.
— Me empresta a Sarah? – Nicolas perguntou.
— Não. Ela é minha também. – respondi.
— Hmm... Adoro quando fala assim. – Sarah veio até mim. – Sou sua. Só sua. – deu-me um selinho. – Agora, vou retomar minha dignidade, tomando um banho e comer algo. Estou exausta.
— Como foi? – coloquei minha mão na cintura dela.
— Bem, nada de prisões. Mas fui tirada da cama por causa de uma briga de vizinhos, acredita? Se o Edgar não fosse um cliente importante, teria ignorado aquela ligação.
— Importante como? Empresário?
— Político, amor.
— Você adora políticos.
— Não, eles é que me adoram. – respondeu. – E você, Nick? A Ema deu trabalho?
— Um pouco. Ela não come direito, quer sair para caminhar e não para de mexer na tipoia no braço. – disse Nicolas.
— Nicolas?! Que tipo de amigo é você? – reclamei.
— O tipo que quer vê-la bem. Agora, ela é seu problema. Vou para casa retomar meu sonho com a Megan.
— Pobre Megan. Vive nos seus pensamentos. – sacudi a cabeça.
— Deixe-me sonhar, Ema. – disse Nicolas.
— Anda sonhando com alguma famosa também, Dona Ema? – Sarah perguntou.
— Não. Estou bastante satisfeita com a minha realidade. – respondi, apoiando meu braço esquerdo sobre seus ombros. — Vou preparar algo para você comer.
— Não, eu me viro. Você precisa descansar.
— Preciso manter minha mente ocupada. – retruquei.
— Tudo bem, pode me ajudar.

***

Me posicionei ao lado de Sarah enquanto ela fatiava as batatas sobre a tábua. Num deslize, feriu levemente o dedo e o levou à boca.
— Aaai... Droga. – exclamou ela, soltando a faca.
— Deixe-me ver. – estendi a mão para Sarah.
— Eu sou uma péssima dona de casa. – disse ela, colocando a mão sobre a minha. Logo, examinei o machucado.
— Você vai sobreviver, mas eu assumo a missão de cozinhar.
— Amor, você está machucada. – disse Sarah. — Podemos pedir comida ou ir comer fora. O que acha?
— Eu quero fazer o almoço. – insisti. — Você pega os ingredientes para mim, ok?
— Você é tão cabeça dura. – Sarah respirou fundo. — E eu não consigo ir contra sua vontade. Deve ser uma fraqueza minha não conseguir dizer não para você.
— Que lindinha. – disse Norman entrando na cozinha. — Até parecem um casal, pena que você é casada, Sarah.
— Não enche a minha paciência, Norman. Acordei cedo e estou sem saco para suas provocações. – disse Sarah.
— Só vim dar um aviso. Seu pai vai dar uma festinha aqui, nada demais. Ele quer apresentar a gente para uns amigos.
— Ele vai cancelar. Esta casa ainda é minha, e não vou recepcionar ninguém.
— Ele disse que você iria se opor e me avisou de antemão que a vontade dele se sobrepõe à sua. Devo escolher seu vestido ou fará isso sozinha? Outra coisa, a Ema vai precisar sair. As pessoas já andam desconfiadas da amizade de vocês, não dê mais motivos para elas falarem. Nada de amantes na festa.
— Essa é a festa que você estava planejando? – indaguei Norman.
— Sim, achou mesmo que eu te convidaria? Ou aquele seu amiguinho chato? Eu só estava curtindo com a cara de vocês. São dois ferrados. Mal têm onde cair mortos.
— Norman, por favor, pare de provocar a Ema. – interveio Sarah.
— É simplesmente impossível conviver com ela. – bufei.
— É impossível conviver com você! Você sempre age como se fosse dona da razão. Não percebe que está sobrando? Vá procurar outro lugar para morar. –  disse Norman.
— Chega! – Sarah exclamou alto. — Eu vou anular esse maldito casamento.–  ela saiu apressadamente, seguida por Norman, que a segurou pelo antebraço.
— Não! Eu... – Norman respirou fundo. — Podemos encontrar um meio termo, certo?
— Quer fazer um acordo? – Sarah estreitou os olhos, esboçando um leve sorriso. — Você está com medo de eu anular o casamento, não é?
— Não, mas...
— Está sim. Você precisa que eu fique casada com você por um ano, não é? – Sarah indagou, me deixando intrigada.
— Um ano? Você quer que eu seja sua amante por um ano? É tempo demais, Sarah. Eu estaria louca antes do fim do primeiro mês. – comentei.
— Ema, calma. – Sarah olhou para mim com preocupação. — A gente vai dar um jeito.
— É impossível. Não tenho paz alguma com Norman perambulando pela casa. – retruquei. — É melhor que eu vá embora.
— Concordo. – disse Norman. — Vocês podem continuar com esse casinho, mas sem ficar se esfregando na minha frente.
— Não, Ema. Por favor, não me deixe. Eu vou anular o casamento. Só preciso de uns dias. – Sarah soltou-se de Norman e deu passos até mim. — Me dá dois dias, tá? Eu resolvo isso.
— Sarah, entendo seu desespero, mas essa situação está insustentável. –  respondi.
— Estou suplicando, Ema. – Sarah me encarava. — Por favor, não vá embora. Eu não vou suportar essa situação sozinha.
— Droga. – bufei. — Não posso prometer que suportarei isso por um ano inteiro.
— Pare de ser dramática. Você nunca viveria em uma boa casa se a Sarah não te bancasse. Ela te deu moradia, te bancou e te deu presentes caros. Você não é diferente de mim, Ema. Gosta de uma vida cara. – comentou Norman.
— Você se diverte irritando a Ema? – Sarah questionou Norman. — Vou te avisar só desta vez. Se continuar causando confusão, eu anulo o casamento. Você não é tão importante para o meu pai quanto pensa. Ele pode encontrar outra como você em qualquer esquina.
Norman ficou em silêncio.
— Eu vou subir. Preciso esfriar a cabeça. – avisei.
— Faremos um maldito acordo. – disse Norman. — Você vai cumprir sua função de esposa socialmente para que nossos pais não desconfiem do nosso “divórcio”. Transe com quem quiser, farei o mesmo. Concorda? – ela ofereceu a mão para Sarah.
— Talvez. Você precisa me provar que mudou de comportamento, caso contrário, é o fim do casamento. – disse Sarah, deixando a cozinha. Observei Norman antes de sair.

DOMINADORA POR ACASO (Sáfico)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora