Capítulo XIX

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Corri ao redor da praça central do bairro com Nicolas. Era nossa quarta volta, totalizando já 2 quilômetros corridos.
— Ema, chega. – Nicolas parou, inclinando-se e levando as mãos aos joelhos, sua respiração estava ofegante.
— Esse é o seu limite? – virei-me em sua direção, movendo as pernas sem avançar. — Vamos, Nick. A última volta ainda está por vir.
— Depois a gente pode tomar milkshake?
— Água de coco. – respondi.
— Está tentando me matar? – Nicolas endireitou a postura.
— Iremos fazer flexões depois. E pare de reclamar, não tenho culpa de você ser tão sedentário. – retomei a corrida.
— Ema! Espera! – Nicolas me acompanhou. — Isso tem a ver com a Sarah?
Parei abruptamente.
— Não, só quero aprimorar minha forma física.
— Você está ficando estranha. Daqui a pouco vai adotar um cachorro e virar vegetariana.
— Apenas corra, Nicolas. – voltei a andar.
— A Sarah não tem nenhuma amiga como ela?
— Sem papo. – apressei o passo, deixando Nicolas para trás.
Após a manhã de exercícios, fui para casa preparar o almoço. Enquanto cortava cenouras, senti o celular vibrar no bolso dianteiro da minha calça de moletom. Soltei a faca, peguei o celular e lá estava uma mensagem de Sarah.
“Espero que esteja pensando em mim.”
Esbocei um pequeno sorriso e respondi à mensagem.
“O que está fazendo?”
Em instantes, recebi outra mensagem.
“Estou esperando o entregador trazer meu almoço no escritório. E você?”
Digitei ao ler a mensagem.
“Estou preparando meu almoço.”
Sarah enviou uma mensagem em seguida.
“Posso te ligar?”
“Sim.”
Digitei. Logo, Sarah ligou. Atendi o telefonema, segurando o celular entre a bochecha e o ombro.
— Oi.
— Oi, Srta. Policial.
— Não vai para casa?
— Só no fim do dia... Ah, falei com Mari. Ela virá daqui há dois dias. Está ansiosa para te conhecer. Vocês vão se dar bem.
— Espero. – falei com insegurança, ciente da importância da aprovação da amiga dela.
— Estou adiantando o trabalho para conseguir ao menos um dia inteiro de folga. Um colega do escritório me falou sobre uma reserva ambiental. Ele disse que tem uma cachoeira. Conhece?
— Conheço.
— Poderia nos levar lá? As meninas iriam gostar. Podemos acampar e... – o tom de voz de Sarah soou mais baixo. — Fazer topless. – riu.
— Não recomendo. Tem um guarda patrulhando o local. – respondi.
— Posso ser bem convincente e fazer ele nos dar privacidade. – disse Sarah.
— Prefiro que não faça topless lá. – respondi.
— É? O que quer que eu faça? – havia um tom malicioso em sua voz.
— Conversar, quero conhecer melhor suas amigas. – lavei as mãos na pia, mantendo o celular pressionado no ombro e voltei a cortar a cenoura.
— Espero que esteja planejando me foder dentro da barraca, porque estou ansiosa para isso.
Franzi a testa ao ouvi-la.
— Imagino que esse tipo de aventura te excite.
— Muito... Minha comida chegou. Nos falamos mais tarde?
— Sim.
— Até mais, Ema.
— Até.
Encerrei a ligação, guardei o celular no bolso da calça e me apoiei na pia. O que havia entre nós? Era cedo demais para determinar o rumo da nossa relação, mas nos víamos com constância e cedo ou tarde teríamos que dar um nome para aquilo.
Após o almoço, sentei-me em frente à escrivaninha e iniciei uma pesquisa no computador. Eu precisava entender o mundo no qual Sarah estava imersa. A princípio, a pesquisa me causou estranheza. Talvez, eu não fosse capaz de desempenhar a função que Sarah gostaria, mas recordei de como havia sido excitante algemá-la. Certamente, podia ser bom inserir alguns acessórios. Nada drástico demais.
No final do dia, estava relaxando no sofá enquanto assistia a um filme na TV, quando fui interrompida pelo barulho de um carro cantando pneu. Silenciei a TV e me ergui do sofá, dirigindo-me à janela para espiar lá fora. O veículo já havia se afastado. Ao abrir a porta e dar alguns passos para fora, percebi as luzes acesas nas casas vizinhas, mas nenhuma presença humana nas ruas.
— Alguém exagerou na bebida. Espero que não cause nenhum acidente. – resmunguei, virando-me para voltar para casa. Foi quando notei que a fachada da minha casa havia sido vandalizada. — Droga! – suspirei profundamente. "Vadia" estava escrito em letras garrafais acima da porta. Podia facilmente imaginar quem era imaturo para achar aquilo engraçado. Regressei ao interior da casa, peguei uma esponja e sabão, e retornei para tentar apagar a pichação. Após muito esforço e com a ajuda de um pouco de água com desengordurante, apaguei a palavra ofensiva. Sentei-me na soleira da porta e observei minha mão suja de espuma vermelha. Eu sabia que Norman estava declarando guerra.

Continua...

DOMINADORA POR ACASO (Sáfico)Where stories live. Discover now