Capítulo CLIII

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A calmaria da madrugada foi abruptamente interrompida pelo toque insistente do meu celular sobre a mesa de cabeceira, cortando o silêncio do quarto. Com um suspiro resignado, atendi.
— Alô. – minha voz ainda carregava os resquícios do sono enquanto eu me preparava para ouvir o que quer que fosse. Do outro lado da linha, um cliente antigo clamava por ajuda, com uma emergência que não poderia esperar até a manhã seguinte. — Tá... Entendi... Fica aí, eu estou a caminho. – encerrei a ligação e retornei o celular para a mesa de cabeceira, acendendo o abajur e me sentando na cama.
— Para onde vai? – indagou Ema, com um tom preocupado.
— Socorrer um cliente envolvido em uma briga com um vizinho. Terei que fazer verdadeiros malabarismos para evitar a prisão dele dessa vez, especialmente considerando seu histórico de acusações por agressão física. – expliquei, ciente dos desafios que me aguardavam.
— Você é ótima no que faz. – encorajou-me Ema, com um olhar solidário.
— Preciso pedir ao Nicolas que passe por aqui enquanto estou fora. — comentei, antecipando a necessidade de cuidados extras para Ema na minha ausência.
— Não precisa se preocupar, eu voltarei a dormir. – assegurou-me Ema, tentando dissipar minhas preocupações.
— Norman pode representar uma ameaça. Ela está do lado inimigo, esqueceu? Além disso, eu e o Nick estamos nos revezando para garantir sua segurança. – ressaltei, consciente dos perigos que nos rodeavam.
— Se ele fosse esperto, manteria distância de mim. Eu o envolvi em uma enrascada. – ponderou Ema.
— Amor, o Nick já deixou claro para todos que você o protegeu. Pare de se culpar, está bem? O passado é passado. Ele está bem e não te culpa pelo que aconteceu. – inclinei-me na direção de Ema, beijando-lhe a testa e acariciando seu rosto com ternura. — Eu volto logo.
— Eu vou ficar bem. – assegurou-me ela, com determinação.
— Promete? – indaguei, buscando um último gesto de garantia.
— Prometo. – respondeu Ema, com um sorriso reconfortante.

***

Dirigi por aproximadamente 40 minutos até chegar ao condomínio onde meu cliente residia, por volta das 4 horas da manhã. Ao sair do carro, dei um longo bocejo, meu rosto sem nenhum traço de glamour, sem maquiagem e com o cabelo preso. Dadas as circunstâncias, era o melhor que podia fazer. Fechei a porta do carro e ativei o alarme, caminhando apressadamente em direção ao elevador. No décimo segundo andar, encontrei meu cliente. A porta do seu apartamento estava entreaberta. Bati para anunciar minha chegada.

— Oi.

Edgar estava deitado no sofá, seu braço direito estava caído, segurando um copo, e seus olhos fechados. O rubor no rosto denunciavam sua embriaguez. Enquanto isso, sua esposa percorria o cômodo de um lado para o outro, os passos marcavam um ritmo agitado no carpete macio, revelando a ansiedade que a consumia.

— Sarah, finalmente você chegou! Desculpe interromper sua noite, mas estava desesperada. Só você consegue colocar juízo na cabeça do Edgar. – a esposa de Edgar me recebeu, sua preocupação era quase palpável.

— Se eu tivesse colocado juízo na cabeça do Edgar, não teria deixado Ema dormindo sozinha. – respondi.

— Ema?! Eu pensei que sua esposa se chamasse Norman, pelo menos foi o que vi na TV.

— Como assim? TV? Minha vida virou assunto de programa de fofoca agora? – bufei.

— Se não ajudar o Edgar, logo será ele que estará sendo alvo da mídia. – ela parou em minha frente e segurou minhas mãos. – Por favor, nos ajude. Nosso filho estava sendo hostilizado pelo filho do vizinho nas áreas comuns do condomínio, e o Edgar foi confrontá-lo.

— Edgar bebeu? E foi confrontar o outro morador do prédio? Isso? – indaguei.

— Ele estava abalado, Sarah. Nosso filho tem apenas 7 anos, e o outro garoto tem 12. – explicou a esposa de Edgar.

— Me dê um minuto. – saí do apartamento, caminhando lentamente pelo corredor enquanto ligava para Nicolas. Ele atendeu no terceiro toque.

— Alô.

— Nick, sou eu, Sarah. Desculpe ligar tão tarde, mas não sei mais a quem recorrer. Precisei deixar Ema sozinha. Pode ir vê-la assim que puder? Acho que vou ficar ocupada por algumas horas, mas voltarei para casa o mais rápido possível.

— Posso, só vou me vestir.

— Teve uma noite agitada?

— Não, a máquina de lavar da quitinete quebrou. Tive que lavar minhas roupas na pia do banheiro, senão teria que sair nu.

— Que situação, Nick. – fiz careta. – Você precisa sair desse lugar. Sabe que pode voltar a morar comigo, não é?

— Obrigado, mas eu preciso me virar sozinho.

— Como preferir. Eu vou desligar, tenho um pepino para resolver. Até mais. Beijo. – encerrei a ligação e guardei o celular no bolso do casaco.

DOMINADORA POR ACASO (Sáfico)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora