Capítulo CXVII

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(Ema narrando)


Nicolas e eu nos dirigimos para a boate, chegando por volta das 20 horas. Enquanto Nicolas estacionava o carro na área reservada para funcionários, eu observava os arredores, onde a garoa fina começava a molhar o chão do pequeno estacionamento.
— O Tony está esperando por você no escritório dele. – anunciou Nicolas ao sair do carro.
— Quem é Tony? – perguntei, puxando o capuz do meu casaco para me proteger da chuva.
— Ele é o gerente da boate, além de ser filho do dono. Tem um jeitão de mafioso, mas é gente boa. – explicou Nicolas.
— Jeito de mafioso? – arqueei uma sobrancelha. — Espero não estar me metendo em confusão. Já tenho problemas demais. Não é fácil ser odiada pelo secretário de segurança. Ele já colocou a corregedoria no meu pé uma vez. Se eu tivesse encostado no Alex, estaria apodrecendo na cadeia. Ou talvez não, né? Como ex-policial, não duraria muito na prisão. – desabafei.
— Você está sendo pessimista, Ema. Só vai trabalhar algumas horas e ganhar um bom dinheiro. Pode comprar uns presentinhos pra Sarah, e ainda pode juntar uma grana pra comprar uma Harvey. Já imaginou você pilotando por aí? Vento no rosto, Sarah abraçada com você e uma rodovia toda pra desbravar? – sugeriu Nicolas, tentando me animar.
— Estou com um mau pressentimento. – respirei fundo.
— Bobagem. Estou aqui há um tempo e tudo tem corrido bem. Até agora, não precisei atirar em ninguém. – ele disse tranquilamente, como se fosse algo perfeitamente comum.
— Como assim, Nick? Você está trabalhando armado? – indaguei, chocada.
— Claro, Ema. Acha que o tipo de pessoa que frequenta esse lugar ficaria tranquilo se a segurança não fosse armada? – explicou Nicolas, parecendo surpreso com minha reação.
— Você está louco? agarrei sua camisa, trazendo-o para mais perto. — Quer ir pra cadeia, seu maluco?
— Ema, você deveria relaxar. –  sugeriu ele.
— Como vou relaxar? Você está arriscando sua vida por uns trocados, Nick. Não vou deixar outro parceiro estragar a própria vida. – argumentei.
— Ema, seu ex-parceiro era um idiota. Não sou como ele. – defendeu-se Nicolas.
— Nick, por favor, me diga a verdade. Que tipo de lugar é esse? Uma boate ou um bordel? – encarei-o. Nicolas coçou a nuca, desviando o olhar.
— Ema, isso aqui é uma boate, mas... Bem, se alguma garota quiser fazer um trabalho extra, ela pode fazer. – confessou.
— Não precisa dizer mais nada. – soltei Nicolas e dei alguns passos para longe dele, irritada.
— Ema, como eu poderia te contar isso na frente da Sarah? Ela ficaria enciumada. – justificou-se Nicolas.
— Recuso-me a trabalhar em um lugar desses. Não vou mentir pra Sarah. Sabe que tipo de problema isso pode me causar, Nick? – olhei para ele, séria.
— Ema, pense nesse lugar como um restaurante. Não estamos aqui pra consumir nada. – ele tentou me convencer.
— Verônica está no cardápio? – indaguei, sarcástica. Nicolas ficou em silêncio por alguns instantes.
— Não, mas ela já esteve. A maioria das garotas se apresenta no palco. E algumas fazem uns trabalhos extras, entende? – admitiu.
— Sabe o que o pai da Sarah fará comigo se souber que estou trabalhando em um lugar como esse? Ele encontraria uma forma de me mandar pra cadeia. A corregedoria já me investigou por abuso de autoridade uma vez. Não provaram nada, então não fui expulsa da corporação. Mas o que acha que fariam comigo se meu nome fosse associado à prostituição? – questionei exaltada.
— Ema, você passou o dia todo com a Sarah. Deveria estar calma, mas está gritando comigo. Pode relaxar? Você não precisa ir falar com o Tony. – sugeriu Nicolas.
— Eu vou, Nick, mas se meu instinto encontrar algum motivo pra fechar esse lugar, vou denunciar às autoridades. Esteja ciente disso, e se não estiver disposto a fazer o mesmo, ao menos não me atrapalhe. – avisei.
— Certo, Ema. Não espero nada diferente de você. Adora se meter em encrenca. Lembra que mal chegou em Santa Mônica e já conseguiu irritar o prefeito? Você e a Norman eram como água e óleo. Às vezes parecia que havia um clima entre vocês. – recordou-se Nicolas, tentando descontrair.
— Não havia clima algum. Eu teria estapeado aquela garota. Ela era uma inconsequente e nunca se dava mal. Mas respeitei meu juramento. – respondi, séria.
— Sabe, Ema, se vocês tivessem se pegado, será que teria conhecido a Sarah?
— Nicolas, pare. Nem consigo imaginar meus lábios colados aos de Norman sem sentir vontade de vomitar.
— Estou apenas brincando, relaxa. – ele tentou me acalmar.
— Pare de me provocar. Estou começando a ficar nervosa. – respondi, frustrada.
Nicolas riu, claramente se divertindo com minha ansiedade.
— Ema, daqui a pouco você verá tantas mulheres bonitas que vai ficar tranquila. Apenas tome cuidado para não olhar demais.
— Po-Por que eu olharia? – gaguejei. — Estou aqui a trabalho.
— Você vai olhar. Na primeira vez que estive lá dentro, senti como se estivesse no céu. Pelo menos é assim que imagino.
— Verônica sabe que você se diverte olhando para as colegas dela? –  perguntei, cruzando os braços.
— Ema, olhar não tira pedaço.
— Que bom que pensa assim. Assim, não ficará bravo quando outros homens olharem para a Verônica. – provoquei.
— Você é muito cruel, Ema. – Nicolas resmungou antes de sair andando.
— Direitos iguais, Nick. – respondi, seguindo-o.

DOMINADORA POR ACASO (Sáfico)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora