Capítulo I

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Eu lutava contra o sono, mantendo-me sentada atrás da minha mesa na delegacia. A madrugada dava seus primeiros passos, e tudo transcorria como de costume. Meu colega de trabalho cochilava, ocupando três cadeiras na recepção, seu ronco ressoava como o motor de um carro velho.
O silêncio entremeado pela solidão envolveu-me, deixando-me à mercê do tédio. Meus olhos se fecharam, e minha cabeça inclinou-se involuntariamente. Incerta se apenas cochilei ou adormeci por mais de uma hora, fui despertada abruptamente pelo estridente toque do telefone. Ao tentar levantar a cabeça, constatei que a lateral esquerda do meu rosto estava aderida ao tampo frio da mesa, o que revelou a considerável duração do meu cochilo. Meus olhos resistiam a abrir-se completamente. Então, estendi o braço sobre a mesa, meus dedos encontraram algo que parecia ser um grampeador, e habilmente desviei a mão. Finalmente, alcancei o telefone, retirei-o do gancho e aproximei-o do ouvido para atender à chamada.
— Alô, sou a Ema Campos da delegacia de Santa Mônica. Em que posso ajudar?
— Preciso que envie uma viatura para o Motel Oásis do Prazer. Acabei de ouvir disparos em um dos quartos, suspeito que tenha ocorrido um assassinato. – a voz do homem, ao telefone, deixou-me tensa com a gravidade da situação.
— Caramba... – suspirei ao considerar o orgulho do prefeito pela tranquilidade da cidade. A notícia de uma morte ecoaria como uma bomba em seus ouvidos. Mesmo considerando a raridade desse tipo de crime na região, era meu dever confirmar a veracidade da informação. — Por favor, senhor, poderia me informar o seu nome? – levantei-me, tomei papel e caneta, consciente das limitações que enfrentaria se a notícia fosse verdadeira. Santa Mônica era uma cidade desassistida pelos governantes, o que limitava severamente nossos recursos. A responsabilidade de ir até o motel recairia sobre mim, meu colega de trabalho precisava ficar, pois deixar a delegacia desocupada não era uma opção. O delegado residia a quilômetros de distância da cidade, raramente aparecendo, respaldado pela convicção do prefeito de que nada ocorreria em sua ausência. Restava a mim e aos meus colegas revezar na delegacia para garantir seu funcionamento. Precisávamos proporcionar aos moradores a sensação de segurança, mesmo diante da escassez de recursos para enfrentar os criminosos. Com apenas duas viaturas, sendo que uma delas passava a maior parte do tempo na oficina, nossos desafios eram diários.
— Moça, me chamo Fred. Por favor, envie ajuda imediatamente. Estou assustado. – a voz ecoou em meu ouvido, resgatando-me dos devaneios.
— Estou a caminho. – coloquei o telefone no gancho e me dirigi à recepção. Ao percorrer um pequeno corredor, avistei Nicolas dormindo. — Nick, acorde. – avancei na direção dele, tocando seu ombro suavemente. Ele apenas resmungou, mantendo os olhos fechados. Bufei, impaciente. — Acorde, por favor! – dei um leve tapa em sua bochecha.
— Ah, droga, Ema... Eu estava sonhando com a Megan Fox. Espero que haja um bom motivo para ter me acordado. – ele reclamou ao abrir os olhos.
— Eu vou até o motel Oásis. – saí andando.
— Não acredito. Me acordou para contar que vai se encontrar com sua ex? Achei que você tinha superado ela.
— Do que está falando, seu idiota? – me virei para trás, exibindo um semblante sério. — Me ligaram agora há pouco, ouviram disparos em um dos quartos do motel. Talvez tenha ocorrido um homicídio. Vou até lá verificar a informação.
— Ah... Droga. – Nicolas sentou-se. — Isso é ruim. Muito ruim.
— Eu sei. – respondi.
— Já informou o delegado? Ele precisa estar ciente disso.
— Primeiro, vou até o motel para verificar se a informação é verídica. Se for, então ligo para o delegado. Se eu o acordar antes disso e a informação for falsa, ele ficará irritado, e acabarei em um buraco pior do que já estou. – expliquei. Há quatro anos, contrariei a pessoa errada, levando à minha transferência para Santa Mônica, uma forma sutil de ser sepultada viva.
Nicolas se ergueu da cadeira, dirigindo-se até mim.
— Ema, espero que seja apenas um trote, caso contrário, nossas noites tranquilas acabaram. – ele disse, soltando um suspiro.
— Eu te ligo se for constatado o pior. – respondi antes de encaminhar-me para a saída.

DOMINADORA POR ACASO (Sáfico)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora